A Pedra da Agulha vista da praia do Canal, o areal de Vale Figueiras e uma sucessão de montes e vales, confirmam o lado mais agreste e inacessível desta região costeira. À chegada, uma vista cimeira sobre as dunas da Bordeira e a ribeira que desagua no mar, num cenário que se repete e caracteriza as praias da Costa Vicentina.
Nesta etapa admirável, é constante a presença simultânea da serra e do mar, da natureza intocada e da presença singular do Homem. É praticamente uma etapa-síntese do que a Rota Vicentina tem para oferecer: o poder do mar derramando-se sobre falésias antigas ou sobre tranquilas praias de areia, matos plenos de cor e aromas, uma extraordinária biodiversidade de fauna, tranquilos bosques de sobreiros, zambujeiros e carvalho português, várzeas cultivadas por homens sem pressa, visitadas à noite por javalis e texugos, uma Primavera que explode em flores e insetos coloridos, um Outono que oferece cogumelos e plantas silvestres comestíveis, pontos de contemplação ao nível do mar, no cimo da falésia, na intimidade do bosque ou no alto de uma colina. Vale a pena um olhar mais demorado na praia do Canal e na aldeia da Bordeira.
Os matos que povoam grande parte deste percurso são ricos em esteva e aroeira, cujo fruto faz as delícias das aves granívoras. Nas praias rochosas batidas pelo mar é comum encontrar calhaus rolados, bem arredondados pela erosão constante das ondas e marés. São pedaços da rocha escura da falésia, frequentemente decorados com riscas brancas de quartzo, em desenhos geométricos inesperados. Rumo ao interior, entre manchas de pinho e eucalipto em terrenos argilosos, sobreiros, medronheiros e terrenos agrícolas onde o gado pasta, a presença de hortas denuncia a chegada a uma povoação. Depois de passar a aldeia da Bordeira, a vista sobre o vale da ribeira da Bordeira e o estuário onde esta se junta à ribeira da Carrapateira assinalam uma vez mais a beleza da região.