Este percurso, desenhado pela Liga para a Proteção da Natureza (LPN), no âmbito do projeto Life Charcos, permite combinar um belíssimo troço do Trilho de Pescadores, com um dos mais notáveis e singulares habitats de água doce da Europa, os charcos temporários mediterrânicos, que albergam espécies raras e ameaçadas.
Este percurso é representativo dos valores que levaram à criação de um Parque Natural e de um sítio da Rede Natura 2000 na costa sudoeste de Portugal. Atravessam-se alguns dos mais emblemáticos habitats, tanto nos matos dunares como nas zonas húmidas. Na Primavera, é possível observar quase todas as plantas endémicas do litoral sudoeste de Portugal, apenas percorrendo este troço da Rota Vicentina!
Nos matos, destaque para arbustos aromáticos como os tomilhos, o alecrim, o rosmaninho, a perpétua-das-areias ou o zimbro. No final de Fevereiro, as orquídeas anunciam o início oficial da época das flores, mas algumas rebeldes mantêm-se floridas o ano inteiro, como a erva-das-sete-sangrias, com as suas flores de um azul intenso. Durante o dia, apenas a águia-cobreira e uma infinita variedade de pássaros parecem povoar estes matos, mas à noite saem das tocas os coelhos, texugos, raposas e saca-rabos. Os charcos temporários mediterrânicos são um habitat prioritário em termos de conservação, pois são ambientes com uma flora e fauna muito originais, o que não é de estranhar… trata-se de criaturas que vivem 3 a 6 meses em meio aquático e o resto do ano em meio terrestre! Muitas destas espécies estão classificadas como ameaçadas, a nível europeu ou global. Uma característica comum a todos os seres que habitam os charcos é o seu pequeno tamanho. Até os juncos são minúsculos! Mas talvez os habitantes mais emblemáticos dos charcos sejam os minúsculos crustáceos: camarões-fada, camarões-concha e camarões-girino. Estes animais completam o seu ciclo de vida em apenas 3 meses! Durante a fase seca, a maior parte dos seres está dormente no solo, sob a forma de ovos resistentes. Quando começa a época das chuvas, os ovos eclodem, os animais crescem, reproduzem-se e preparam-se de novo para a fase de dormência. Com as plantas ocorre um fenómeno semelhante, mas em vez de ovos, as formas resistentes à secura são sementes, esporos e órgãos subterrâneos. Os charcos temporários são habitats preferenciais para a reprodução dos anfíbios, pois não têm peixes nem lagostins, que são os principais predadores dos ovos e larvas dos anfíbios. Nos charcos temporários da costa sudoeste podemos encontrar quase todas as espécies de anfíbios que ocorrem em Portugal, incluindo uma espécie endémica do sul da Península Ibérica, o sapinho-de-verrugas-verdes-lusitânico, Pelodytes ibericus. Trata-se de um sapinho minúsculo (geralmente tem menos de 4cm de comprimento). Contudo a postura de uma única fêmea pode chegar aos 1600 ovos!
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