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Raul Brandão fechou ciclo de lições na Feira do Livro

A ensaísta, crítica e professora universitária Maria João Reynaud, especialista na obra de Raul Brandão, deu ontem uma aula a partir de “Húmus”, no Salão Independente da Feira do Livro, que terminou nos Jardins do Palácio de Cristal.

«Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem. Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida se me afigura iluminada por outra claridade. Há momentos em que cada um grita: ? Eu não vivi! Eu não vivi! Eu não vivi! Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. A vida é só isto?» – a citação é de Raul Brandão na sua obra-prima, publicada em 1917 e que serviu de ponto de partida para a lição “Húmus de Raul Brandão: entre o sonho e o grito”.

A coincidência da celebração dos 150 anos do nascimento do autor portuense (1867-1930) – inclusive com uma exposição em dois polos  promovida pela Câmara do Porto e comissariada por Vasco Rosa – e o centenário da publicação de “Húmus” constitui um dos grandes acontecimentos literários do ano e, por isso, mereceu também particular atenção no programa cultural da Feira do Livro.

“Húmus ocupa um lugar de destaque na história da ficção portuguesa do século XX. O facto de o livro ter conhecido três versões em menos de dez anos é um dos seus aspectos mais fascinantes, na medida em que um tão extenso trabalho de refundição revela uma inquietação fundamental do escritor, relacionada com a experiência íntima da criação e com a problemática da escrita”, considera Maria João Reynaud, convidada para encerrar o ciclo de lições que Anabela Mota Ribeiro programou para a Feira do Livro.

Raul Germano Brandão nasceu no seio de uma família de pescadores, a 12 de março de 1867 na Foz do Douro, no Porto, e morreu a 5 de dezembro de 1930, com 63 anos. Escritor, militar e jornalista, foi autor de uma influente obra literária e jornalística, que inclui obras como Os Pobres (1906), Húmus (1917), Os Pescadores (1923) e Portugal Pequenino (1930) que escreveu em parceria com a mulher, Maria Angelinda, e com desenhos de Carlos Carneiro, ou ainda O Pobre de Pedir (publicado postumamente em 1931).

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