Numa Turquia submergida em múltiplas indefinições, onde o processo de secularização evidencia ser mais uma aparência do que uma realidade e o exercício do poder se tornou um perigoso jogo de espelhos, a criação teatral parece demonstrar uma premente vitalidade. Vindos de Istanbul, a dramaturga Ceren Ercan e o encenador Mark Levitas apresentam em Lisboa uma manifesta demonstração disso mesmo, propondo uma peça vagamente inspirada em Madame Bovary.
Para ser preciso, do romance de Flaubert a dupla resgata sobretudo o “estado de espirito” de Emma Bovary, aplicando aquele deslumbramento ingénuo e trágico a uma certa burguesia de Istanbul seduzida pelos ideais ocidentais. Porém, há quem não tome parte desses “sonhos” e necessariamente recrudescem conflitos sociais e geracionais que atravessam o quotidiano num país nitidamente enclausurado entre dois mundos. FB
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