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Edgar Martins. Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios

Edgar Martins, «Homem deixa uma carta de despedida com 1904 páginas e mata-se numa experiência de exploração filosófica, 2010», da série Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios, 2016.

 

Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios é o título do mais recente projeto de Edgar Martins. O projeto começou a estruturar-se no decurso de uma pesquisa no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), em Lisboa e Coimbra. Ao longo de três anos, Edgar Martins realizou mais de 1 000 fotografias e digitalizou mais de 3 000 negativos do vasto e extraordinário espólio do INMLCF. Uma parte significativa destas imagens representa provas forenses, nomeadamente armas e objetos usados em crimes e suicídios, mas também locais de crime, máscaras fúnebres, projéteis, cartas de suicidas e atividades inerentes ao trabalho do médico-legista. Porém, a par destas fotografias, Edgar Martins começou também a recuperar imagens do seu arquivo ou a produzir novas fotografias sobre outros assuntos, pensadas como contraponto visual, narrativo e conceptual.

Deste modo, o tema da morte é aqui explorado através de uma articulação produtiva entre registos documentais e factuais (vinculados a casos reais e cumprindo as exigências científicas e funcionais do INMLCF) e imagens que procuram incitar o potencial especulativo, ficcional e imaginário em torno do tema. Neste sentido, Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios é um trabalho que se propõe a perscrutar as tensões e as contradições inerentes à representação e imaginação da morte, em especial da morte violenta, e correlativamente sobre o papel decisivo (mas profundamente paradoxal) que a fotografia – nas suas implicações epistemológicas, estéticas e éticas – tem exercido na sua perceção e inteligibilidade.

Este trabalho marca igualmente uma transição significativa na trajetória criativa de Edgar Martins, depois de projetos anteriores nos quais sobressaía a homogeneidade formal e uma maior incidência de temáticas em torno da tecnologia, da arquitetura, da paisagem e da noção de lugar. Neste novo projeto inclui-se um conjunto mais vasto e diversificado de tipos e processos visuais – fotografias, apropriações, projeções, instalação, texto – assinalando uma crescente inclinação do artista por uma perspectiva mais híbrida e expandida da prática da fotografia e da experiência das imagens.

«Desde a sua invenção que a fotografia contribui decisivamente para consolidar a morte como tema visual, ou melhor, como um eixo intrincado de imagens, imaginações e imaginários, que atravessam vários domínios da ciência e da cultura. Esta constelação de imagens de Edgar Martins reforça não só a convicção de que as imagens fotográficas são produtos de um meio (técnico e cultural), mas também que a experiência de cada imagem fotográfica é igualmente um produto de nós próprios, do nosso corpo como um meio vivo de imagens.» – Sérgio Mah, curador da exposição.

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