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Desnudo-me em palavras | de Carla Ribeiro

Sobre a autora:
Carla Maria Cardoso Ribeiro, tripeira de Paranhos, nascida em Março de 1971, com um filho lindo.
Uma mulher, que não para, “pronta” a chegar aos corações, aos sentimentos.
Trabalho, há 28 anos na área das telecomunicações.
Estudei até ao 12º ano, tendo escolhido a área da Química, e entrei no ISEP, não tendo porém concluído o meu curso.
Escrever, é um desnudar, deixando que em cada leitura, o meu leitor me conheça e reconheça.
Não sou poeta, nem escritora, mas sou um poema em construção diária, no descobrir, no reconstruir e reconhecer, em cada vivência que cada momento que a vida me proporciona.
Amo a Vida, porque a Vida me Ama a mim…

Sobre o livro:

É um lugar-comum dizer-se que o poeta vive na sua torre de marfim, entregue às suas musas, elaborando poemas como quem tece rendas, longe do mundo. Carla Ribeiro estilhaça completamente este estereótipo, tecendo poesia pelas ruas do Porto, em versos de mais puro quilate, quando entrega as suas dádivas e as dos outros aos deserdados do mundo – também, por vezes, deserdados de si mesmos –, antes de a plasmar na folha de papel. Não há torre nem marfim na poesia de Carla Ribeiro; antes, há mãos estendidas para o outro, sentimentos destilados ora no gesto ora no andar dos dedos sobre o teclado, compondo mais à noite o que no princípio da noite praticou – dádiva, amar – ou que ao longo dos dias sentiu – ausência e carência. De facto, quase nunca quem é capaz de mais amar tem a felicidade de ser amado, de corpo inteiro e eterno. A poesia é tantas vezes a sublimação da ausência, da carência, da perda e da entrega.
Neste Desnudo-me em palavras, encontramos não apenas a poetisa, ousando esse desnudamento nas páginas da obra, dizendo (quase) tudo daquilo que o seu interior foi guardando, mas, em igual medida, encontramos o outro, quase se podendo dizer que sem o outro não existiria esta poesia desnudada, nem sequer uma autora chamada Carla Ribeiro, e talvez nem mesmo a cidadã com o mesmo nome não fosse a mesma, uma cidadã que se assume em plenitude precisamente pelo busca da existência do outro.
O outro, sim, em diferentes matizes, em diferentes posições, a começar mesmo pelo vislumbre de certas posições que farão parte do kamasutra, que mais não é do que podem/devem ser as ilimitadas posições que a entrega amorosa deve permitir, envolvendo dedos, pernas e braços, lábios e dentes, e outros órgãos especialmente vocacionados para a posse carnal do outro, mas também os diversos postos que esse outro ocupa na nossa vida. Claro que tudo começa pelos outros que fazem a família de cada um – e também a Carla Ribeiro os traz para este livro, pais, avós, filho –, mas o clímax da importância do outro em nós é aquele que preenche a metade em falta, preenchimento esse que faz dos lençóis um mar ora o depositário da serena tranquilidade, ora motor da tempestade que parece querer comer tanto a terra como os que sulcam. É essa presença da pessoa que foi (é?) amada que perfuma toda a obra, e é para esse outro que a poetisa procedeu ao seu desnudamento.
E há mar, como se este fosse a testemunha maior do amar, concretizando, quer através do poema, onde o mar irrompe frequentemente, quer mediante a associação entre imagem e poema, a aparente ligação vocabular entre as duas palavras: (a)mar. Mais que testemunha, o mar é também o manancial que rega a poesia de Carla Ribeiro, espaço mítico onde ela encontra a exata metáfora com que melhor completa o seu desnudamento. Afinal, do mesmo elemento, o sal, se fazem as lágrimas e o mar. Sim, porque há muitas lágrimas na poesia de Carla, tal como no mar há muitas lágrimas de mães e noivas e esposas que ficaram na praia, após a partida da pessoa amada. Também a poetisa é uma delas, das que ficaram na praia, subjugadas perante a dor da partida. Subjugada, mas não rendida, porque descobriu então que ainda havia muito mar para contar, muitos outros de quem recolher o sal das lágrimas, nascidas não pelo abandono, mas pela gratidão perante o bem recebido, muita poesia com que se desnudar finalmente…
Finalmente, o desnudamento. Num tempo em que o desnudamento, ato de se despojar das roupas, perante o outro, se tornou tão banal como o seu contrário, o de se mistificar atrás das roupas, a poetisa ousou proceder ao verdadeiro despojamento, crescentemente desvalorizado e tornado espécie em vias de extinção nas sociedades modernas, que é o de abrir o coração, não o fingimento de abrir o coração, ato que dá audiências e é razão de ser, em paralelo com o desnudamento de roupas, dos famigerados reality shows, mas sim abrir o coração, tanto que se o outro o pudesse ver e realmente sentir o peso desse desnudamento, teria vontade de equacionar o regresso, para , um dia, ninguém se lembrar da partida, contrariando o lugar-comum da canção, “nunca voltes ao lugar .

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