‘A minha primeira viagem fi-la sozinho com um índio’. Entre 1799 e 1804, o geógrafo alemão Alexander von Humboldt (1769-1859) e o botânico francês Aimé Bonpland (1773-1858), com passaportes especiais concedidos pelo rei Carlos IV de Espanha e o Conselho das Índias, protagonizaram uma das viagens científicas pela América com maior repercussão e efeitos no futuro.
A expedição de Humboldt, que cobriu territórios dos atuais Venezuela, Cuba, Colômbia, Equador, Peru, México e Estados Unidos, é descrita em 30 volumes publicados em Paris, entre 1805 e 1834, sob o título “Voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent”. Por esta razão, o desafio é apresentar ao viajante científico, para além da sua mitologia romântica e da sua condição autoral, mostrando como as relações ‘capital – poder – conhecimento’ se tornam in/visíveis e permanentes no tempo.
Com base na apropriação das suas estratégias de trabalho: a caminhada, o mapeamento, o diário de campo, a coleção de espécies (vegetais, animais, minerais, arqueológicas) e correspondência pessoal, o projeto procura saber da ficção ao documental, os novos significados do viajante.
Alterando a rota original de Humboldt, visitam-se lugares e chaves localizadas sobre como o ’olhar imperial‘ interpreta as nossas sociedades coloniais; como o ’conhecimento universal‘ toma para si o conhecimento e os bens culturais locais; como o mundo de ’construção científica‘ naturalizou a América, configurando os nossos países como ’fonte de matérias-primas’.