A exposiçãoChama Xamânica apresenta, pela primeira vez em Lisboa, e de forma extensiva, o trabalho ainda bastante desconhecido de Otelo M. F. (Almancil, 1974). Constituída por um número substancial de desenhos, objetos e esculturas, esta exposição permite mergulhar num universo criativo ao qual não são estranhas as noções de animismo, primitivismo ou xamanismo. Mais do que meras referências discursivas, estes são verdadeiros campos de conhecimento operativo para um trabalho frequentemente movido pelo sentimento de perda face a um mundo desligado do espírito da terra e do conhecimento cultivado pelos nossos antepassados.
Não surpreende, portanto, que o artista tenha na performance e no ritual os canais que lhe permitem conduzir energias, articular matérias e convocar presenças ancestrais com as quais estabelece parcerias e divide responsabilidades autorais. Na verdade, tudo na obra de Otelo M. F. traz a marca da colaboração – seja entre materiais, entre materiais e o artista, entre a vontade de um e os estados dos outros, entre todos eles e as forças subtis que os regem. Daí que o diálogo, a metamorfose, o movimento, a transitoriedade ou a reconversão de materiais frequentemente tratados como restos ou desperdícios sejam as estratégias basilares de uma prática que reitera, a cada nova peça, que “o trabalho artístico serve para reclamar a nossa existência espiritual”.
Curadoria de Nuno Faria.