Diversos historiadores, a partir da documentação disponível, apontam oséculo XV como a altura em que se iniciou um processo de importações de Sevilha e de outros centros de produção de material cerâmico, ainda diferente da tipologia de azulejo que se normalizou nos séculos posteriores. A conjugação de pequenas formas quadradas e hexagonais permitiam padrões geométricos utilizados, por exemplo, em pavimentos de espaços residenciais ou monásticos. A esta técnica de recorte e jogo com as peças chamou- -se alicatado. As evoluções técnicas posteriores permitiram que as composições de várias cores pudessem surgir dentro do mesmo quadrado cerâmico, gerando economias não só na produção, mas também na colocação no suporte. A “corda seca” e a “aresta” foram técnicas desenvolvidas nos centros de produção hispano-mourisca, alguns desses artífices poderão mesmo ter trabalhado em território nacional. Nos altares colaterais da igreja de Santa Maria foram colocados, no século passado, dois frontais de azulejos destas características, sevilhanos, em técnica de aresta, do início do século XVI. Um dos frontais foi constituído com azulejos encontrados em recuperações de edifícios da Rua Direita e o outro poderá ser o antigo frontal de altar da igreja de Nossa Senhora de Monserrate, segundo proposta de José Meco (1998, p. 106). Os motivos decorativos são constituídos por padrões mudejares e motivos renascentistas (urnas), com cercaduras de folhagem.A textura, a vivacidade discreta da cor, o brilho do esmalte e os motivos repetidos de forma padronizada são uma mais valia a destacar no rico contexto artístico que é a igreja de Santa Maria. Mesmo sabendo que foram colocados na actual localização em pleno século XX, estão plenamente integrados e reflectem uma reutilização de materiais em contextos diferentes, atitude frequente noutras épocas. Na liberdade de cada um fica também a hipótese de a nossa imaginação repetir os padrões que ali se encontram e transportá-los para espaços civis, residenciais, à semelhança dos de localização original.
TÉCNICA DE ARESTA: Surge depois da técnica de “corda seca fendida”. Esta consistia na impressão em barro fresco de uma matriz. Os sulcos, resultantes dessa impressão, suportavam gordura misturada com óxido de manganés. À medida que as matrizes evoluem para uma impressão em profundidade das diferentes zonas de cor, separadas por uma aresta, a técnica de aresta poderia ser associada à de “corda seca” (Arruda L, 1995, p. 366). Esta técnica produzia azulejos de texturas marcadas, cores intensas e esmaltados, que se enquadra perfeitamente nos padrões geométricos característicos da arte islâmica e com grandes capacidades de adaptação à arquitectura.