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A Instabilidade Laboral e a Luta dos Mineiros

As dificuldades económicas das empresas mineiras, as crises económicas (nacionais e internacionais), as guerras mundiais e as alterações dos mercados, trouxeram sempre grande instabilidade laboral, pelos consecutivos momentos de paragem, abandono e recomeço dos trabalhos mineiros, mas também pela reivindicação de melhores condições de trabalho e de vida. Tudo isto implicou, muitas vezes, o despedimento dos trabalhadores ou a sua não contratação, e fez emergir greves, conflitos e tenções laborais, que frequentemente culminaram na prisão arbitrária daqueles que mais pugnavam pelos direitos dos trabalhadores e pelas suas liberdades.

 

A 1.ª Greve Industrial no Alentejo e a Associação de Classe dos Trabalhadores Mineiros d’Aljustrel

A provável primeira greve industrial no Alentejo aconteceu, em 1879, nas oficinas metalúrgicas da Companhia de Mineração Transtagana, situadas na herdade das Pedras Brancas. Local onde se procedia à queima e cementação do minério, e onde viviam, também, cerca de 800 trabalhadores num acampamento formado por cabanas e servido por vendas de vinho, armazéns, barbeiros e sapateiros. No dia 16 de Outubro de 1879, a generalidade dos trabalhadores subleva-se em greve, com o objetivo de lhes ser pago o salário devido para poderem ir à feira de Castro Verde. O que estava em causa era a falta de liberdade dos trabalhadores, pois, as empresas, através do controlo dos armazéns e dos pagamentos semanais, criavam uma dependência pelas dívidas contraídas, que garantia a estabilização da mão-de-obra.

Os primeiros conflitos surgiram assim, no séc. XIX, sob a forma de motins, de uma maneira espontânea e pouco organizada, em defesa da liberdade do trabalhador. Com a instauração da República, em 1910, surge um movimento sindical de inspiração anarquista, que faz sentir a sua ação em Aljustrel, conferindo organização às reivindicações dos mineiros, de melhores condições de trabalho e de vida. A 13 de Setembro de 1911, foi formalmente constituída a Associação de Classe dos Trabalhadores Mineiros d’Aljustrel, congregando os trabalhadores da empresa mineira, num centro sindical e político, mas também cultural e recreativo, muito próximo dos ideais Republicanos. Após a revolução de 1926 as associações de classe vão perder a sua autonomia, sendo controladas por elementos afetos ao sistema corporativo do Estado Novo (1933-1974). Só depois de 25 de Abril de 1974 é que se legaliza o direito à greve e a liberdade sindical.

 

Valentim Adolfo João (1902 – 1970)

De entre os muitos indivíduos que lutaram pelos direitos dos trabalhadores e pela liberdade, relembramos Valentim Adolfo João, antifascista e dirigente anarco-sindicalista, ativo defensor dos interesses dos trabalhadores mineiros, em São Domingos e Aljustrel, tal qual o seu irmão Manuel Patrício (1896-1987).

Nasceu em Aljustrel, a 30 de Março de 1902, no seio de uma família ligada à atividade mineira. Acusado de ter participado, em 1937, no atentado contra Salazar, viveu na clandestinidade, em Espanha e Portugal, usando um nome falso (José Dias), até que, em Setúbal, foi reconhecido e detido. Condenado a 28 anos de prisão, esteve preso 14 anos no forte de Peniche (de Outubro de 1949 a Abril de 1964). Faleceu, em Setúbal, a 29 de Janeiro de 1970, com 68 anos de idade.

Quando organizava o sindicato com outros mineiros, namorava uma rapariga com a sua idade (dezanove anos), e um dia ela queixou-se da pouca atenção que lhe dedicava, ao que Valentim Adolfo João responde em verso, justificando a sua falta de tempo e os seus ideais:

Não tenho vagar amor
para te dar atenção
tenho muito que fazer
na minha Associação

É meu desejo transformar
esta pobre sociedade
que semeia a iniquidade
para nos escravizar
temos muito que lutar
com força audácia e valor
para extinguirmos a dor
a miséria e o sofrimento
e por isso neste momento
não tenho vagar amor 

Se a vida fosse a sorrir
se de encantos fosse o viver
e se num breve alvorecer
a luta nos redimir
então poder-te-ei garantir
imorredoira afeição
mas enquanto a escravidão
produzir mal e desgosto
não posso fugir do posto
para te dar atenção 

Olha para todo o mundo
verás tanta dor tanta desgraça
eu amo a beleza, amo a graça
amo o bem-estar profundo
o capital iracundo
procura nos perverter
mas nós havemos de vencer
apeando os comodistas
e amando os idealistas
tenho muito que fazer 

Sociedade corrompida
teus erros são vis e sicários
aleivosos, argentários
que nos negam o direito à vida
e eis porque minha querida
distraio a atenção
e para acabar a escravidão
eu prego por toda a parte
construindo um baluarte
na minha associação

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