O trabalho da Joana Escoval encontra vários paralelos em diferentes culturas indígenas, como por exemplo na prática dos Índios Navajo da América do Norte. Numa estadia nos EUA a artista viajou até ao New Mexico para conhecer quem ainda deixasse aspirit trail nos tapetes Navajo. A spirit trail é uma linha muito discreta que as tecelãs deixam normalmente no canto superior direito, interrompendo o desenho do tapete. A linha abre uma espécie de pequena estrada que direcciona para fora, como se deixasse o caminho aberto para o exterior.
Asspirit trails eram muitas vezes tomadas como erros, mas na realidade são formas de honrar uma tradição passada pelas tecelãs mais velhas, e podem ter várias conotações, algumas práticas outras espirituais. Numa delas, a spirit trail é tida como a forma de libertar o objecto de todos os pensamentos que possam ter ocorrido durante o processo de feitura do tapete.
A precisão de cada escultura feita pela Joana Escoval é a de um objecto que é ao mesmo tempo forma e acção, matéria e ausência de matéria. Como se existesse em cada peça uma luta interna que não conseguimos ver. A forma e a acção exercida sobre a matéria surgem lado a lado, sem hierarquia. As obras precisam ter uma aspecto final, ou finalizado, mas na verdade elas continuam em mutação. E essa forma que as suas obras ganham corresponde a características não formais que as antecede. Pode parecer confuso mas não é. O uso de um determinado metal como o ouro, a prata, o cobre, ou uma nova liga onde se podem encontrar esses elementos, é determinante para o entendimento do seu trabalho, porque estes
metais trazem consigo componentes químicos que se misturam connosco sem que nos apercebamos.
Os dados científicos e históricos fazem-nos compreender o desenvolvimentos das moléculas, dos atómos que compoem todos os corpos, todos os objectos, ou seja, toda a matéria. Tal como no resto, o metal é uma matéria em constante mutação e comunicação. Os processos químicos e alquímicos pelos quais as esculturas passam, fazem parte do processo de concepção. Quando a artista decide fundir um determinado metal, transforma uma determinada matéria, deixando-a durante as passagens pelos diferentes estados, absorver e entranhar-se no ambiente à sua volta.