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JOÃO PAULO FELICIANO

Vivo e trabalho em Xabregas desde 2002. Observei esta zona da cidade ao longo de década e meia. Fui sendo testemunha dos vários ciclos por que passou: a perspectiva pós-Expo98, os grandes-projectos-para-o-futuro, o efeito da crise de 2009, o progressivo ‘acordar’ dos últimos 2-3 anos.
No final de 2015, uma foto tirada junto ao Pátio do Black (Beco dos Toucinheiros/Vila Dias) e publicada de seguida na minha conta de Instagram e Facebook deu inicio de modo expontâneo, talvez por intuição, àquilo que viria a ser um ambicioso projecto de levantamento fotográfico da zona oriental de Lisboa.

Desenvolvido ao longo de um ano, entre o dia 9 de novembro de 2015 e o dia 22 de novembro de 2016, o projeto fotográfico a que chamei “Xabregas City” resultou num total de mais de 8300 fotografias tiradas, e 1404 fotografias selecionadas e publicadas.

As fotografias, todas elas tiradas com iphone, foram sendo publicadas a um ritmo de várias por dia (sempre no Instagram e Facebook). Correspondem a um olhar pessoal, artístico, da ‘minha cidade’, vivida e descoberta quotidianamente. Mas, enquanto tal, constituem igualmente um registo da paisagem e morfologia de uma importante zona da cidade de Lisboa (1/5 da malha urbana), num momento de ‘suspensão’, entre um passado cristalizado e um futuro desconhecido.

A noção de que nos próximos anos toda esta zona irá sofrer transformações a um ritmo acelerado, foi sem dúvida um dos impulsos para este levantamento fotográfico. A reacção de surpresa e espanto manifestada pelos ‘espectadores’ à publicação de muitas das fotos, foi outro factor determinante. Esta é uma Lisboa que poucos conhecem. E que eu próprio, passados 15 anos a viver no coração de Xabregas, pouco conhecia.
Além da sua publicação diária online, a totalidade da série fotográfica “Xabregas City” será agora reunida numa exposição, nas novas instalações do Ar.Co, no antigo Mercado de Xabregas, a 100 metros do local onde tirei a primeira fotografia desta série. Não poderia fazer mais sentido.

Em abril será editado um livro reunindo as 1404 fotografias, acompanhadas de textos de Sérgio Mah, Jorge Gaspar e José Sarmento Matos.
Este levantamento fotográfico foi uma iniciativa minha, pessoal, autónoma, feita de graça e disponibilizada gratuitamente. Mas o seu evidente interesse para a memória da cidade de Lisboa, resultou num protocolo estabelecido com a Câmara Municipal de Lisboa. A CML contribuiu financeiramente para a exposição e edição em livro, e receberá todo o material recolhido e catalogado para incorporação no Arquivo Fotográfico Municipal.

João Paulo Feliciano, Xabregas, Março 2017

 

Local: Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual

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