Na segunda exposição de João Queiroz (Lisboa, 1957) na Galeria Vera Cortês apresenta-se um conjunto de trabalhos recentes, feitos entre 2016 e 2017.
A exposição é composta por quinze óleos sobre tela, todos eles variações de uma mesma paisagem, e de iguais dimensões. Durante o processo de produção destas telas, Queiroz perguntou-se pela ideia de limite ou fronteira como pode aperceber-se neste texto que o artista escreveu por ocasião desta nova exposição na galeria: “Brentano afirmava que se uma superfície azul estivesse em contacto com uma superfície vermelha teríamos de concluir que a linha de separação seria ao mesmo tempo vermelha e azul. Assim evitaríamos a, segundo ele, “ monstruosa conclusão” de Bolzano, pela qual devíamos aceitar que a linha de fronteira ou era azul ou era vermelha, e uma das superfícies seria ilimitada. Charles S. Peirce meditava também com alguma perplexidade sobre os limites de um borrão de tinta que lhe caíu no papel…“ a conclusão lógica (…) é que os pontos de fronteira não existem”.
Séculos antes, Leonardo da Vinci, nas suas notas, reflectia sobre a separação da superfície da água de um lago e da atmosfera…“ deve ser uma fronteira que
nem é ar nem é água”. Não está decidida a discussão sobre este imenso tema do limiar, que irmana filósofos, matemáticos e pintores. E que, no universo da pintura, comunga o sorriso da Gioconda,o tenebroso de Caravaggio e as passagens dos campos de cor de Mark Rothko.
Na execução destas pinturas tive presente o tema do limite, da fronteira, da passagem, do obstáculo, do muro, da porosidade. A partir da formação de um todo composto por duas partes destacáveis: uma delas terrosa, mineral e dura; outra vegetal, arbórea e permeável. Que devem tão pouco à Geologia e à Botânica quanto os quadrados pintados devem à Geometria.”
Local: Galeria Vera Cortês.