A exposição que João Simões (Luanda, 1971) apresenta marca o seu regresso ao circuito expositivo português depois de quase duas décadas de périplo internacional. Ao contrário do que se poderia esperar, contudo, não se trata aqui de um regresso apoteótico. Esta não é a exposição onde vamos encontrar João Simões como nunca o vimos, reinventado na sua prática artística, apresentando um vasto conjunto de obras onde poderemos finalmente aferir as inúmeras inflexões que o seu trabalho conheceu nestes anos de circulação no exterior. Bem pelo contrário: esta é uma exposição onde encontramos o trabalho de João Simões na sua versão mais concentrada, despojada e económica.
a verdade, esta é uma exposição de uma peça só. Nela, reconhecemos a toada analítica e conceptual a que o artista nos habituou desde meados da década de 1990 mas, desta feita, ancorada num fenómeno peculiar: na casualidade surpreendente de encontrar um conjunto particular de frutos e de estabelecer entre eles um universo de relações onde se questionam as noções de vazio e de progressão, de medida e infinito, de sugestão e presença, de busca e invenção, de potência e contenção, de acaso e trabalho – todas elas chamando a atenção para o modo como a matriz binária do nosso conhecimento produz uma sociedade maniqueísta que lida com o mesmo nível de desconfiança e de fascínio para o desvio, para o raro, para o incomum.
Curadoria de Natxo Checa.