Absolute Duration — o título tem como ponto de partida o ensaio de Sigmund FreudOn Transience — é um projecto de exposição resultante da colaboração entre Miguel Branco (PT), Michael Huey (EUA), and Wolfgang Wirth (AUT), concebido para a Carpe Diem Arte e Pesquisa, ocupando cinco das salas do Palácio Pombal em Lisboa.
Em resposta à sequência de espaços, cada artista criou/seleccionou trabalhos que alinham com o estado particular de conservação do edifício: o resultado é uma teia de intervenções que — tomando lugar em cada uma das salas —funciona no seu todo como uma instalação caleidoscópica e interconectada.
A natureza framentária do palácio e a sua grandeza, criam resonâncias várias não apenas com a história da arte e com um passado arquitectónico/histórico, mas sugere também — com o desfilar de paredes danificadas, azulejos desaparecidos, elementos estruturais expostos e vestígios de papel de parede — algo como a própria memória do espaço, parcialmente revelada.
O visitante encontra-se sob um solo instável, confrontado com a precaridade do espaço e da sua conservação, a sua disfuncionalidade espacial e o seu estado de decadência. A percepção do espaço, framentado em múltiplas camadas, torna-se uma experiência profundamente inquietante.
A abordagem dos artistas ao espaço é uma tentativa (bem entendida como algo destinado ao fracasso) de melhorar estas circunstâncias e de arranjar estas falhas através de uma provisória “remodelação”: oferecendo divisões que se apresentam como mobiladas — em teoria — mesmo se permanecendo absurda e completamente inabitáveis. Painéis de parede que se encontravam removidos são agora cobertos por espelhos, um quarto é forrado a papel de parede, quadros são pendurados, mobílias são trazidas e dispostas nos espaços. Nenhuma destas medidas, no final, disfarça os sinais de uma disfunção; pelo contrário, sublinham e tornam mais evidente essa realidade.
Ao serem trazidas para o espaço da Carpe Diem no piso térreo das salas do Palácio Pombal, as obras estabelecem parâmetros provisórios para si próprias, habitando o espaço e tomando-o como sua casa, sabendo no entanto, que um estado de “Duração Absoluta” é inatingível.