Luísa Correia Pereira, Divers chemins avec une forêt au centre, 1970. Coleção de Arte Fundação EDP.
O tema essencial de Segunda Natureza é precisamente a noção de que, por muito que a «economia da experiência» tente convencer-nos do contrário, há muito que perdemos a possibilidade de vivenciar e aperceber a Natureza no seu estado virginal. A Natureza passou a integrar a cultura e a ser vista apenas através das lentes da cultura. Através das suas descrições e representações, os artistas foram talvez os primeiros a entender a Natureza como um sujeito essencialmente produzido pelo homem – um sujeito a ser capturado, filtrado e reinventado através de meios técnicos que se estendem, muito para além das ferramentas agrícolas ou paisagísticas, dos aparelhos fotográficos às práticas da pintura e escultura. – Pedro Gadanho (excerto do texto publicado no catálogo da exposição).
Com a exposição coletiva Segunda Natureza o MAAT inicia um ciclo de olhares sobre a coleção da Fundação EDP.
A exposição apresenta cerca de cinquenta obras realizadas por vinte e seis artistas, que datam desde os anos de 1970 até ao presente. Através deste panorama, que abrange cerca de meio século de produção artística, infere-se uma diversidade de formulações, transformações e questionamentos quanto à ideia da natureza e da nossa relação com a mesma. O tema geral da exposição foi equacionado à luz dos debates atuais em torno do Antropoceno e das discussões sobre o impacto da ação humana sobre o ambiente.
Organiza-se pela deteção de afinidades entre as obras. Salientam-se alguns dos múltiplos pontos de contacto e alguns dos artistas cujas obras estabelecem essas ligações: a inscrição do corpo no contexto natural, através da experiência e do registo da mesma (Alberto Carneiro, Pedro Vaz); o jardim como dispositivo crítico, onde se veiculam e questionam códigos culturais e se inscrevem experiências pessoais e coletivas (Vasco Araújo, Gabriela Albergaria); a tensão entre a esfera natural e tecnológica (Alexandre Estrela), e os impactos da última na primeira, num cenário ficcionado (Miguel Soares); o tratamento isolado de elementos concretos como objeto de atenção do artista (Luísa Correia Pereira, Fernando Calhau, Mariana Marote); as fronteiras entre perceção, representação e abstração na ideação da paisagem (João Queiroz, Cruz-Filipe); entre outros.
Além de várias obras raramente expostas ao público (Manuel Baptista, Michael Biberstein, Fernando Calhau, Luísa Correia Pereira, Noronha da Costa, João Queiroz), a exposição apresenta uma série de aquisições recentes centrais ao tema (Gabriela Albergaria, Alberto Carneiro, Alexandre Estrela, João Grama, Mariana Marote, Miguel Soares e Pedro Vaz).
Pedro Vaz, Fanal IV, 2014 (video stills). Coleção de Arte Fundação EDP.
Artistas
Gabriela Albergaria, Vasco Araújo, Manuel Baptista, Michael Biberstein, Fernando Calhau, Alberto Carneiro, Paulo Catrica, Alexandre Conefrey, Luísa Correia Pereira, Cruz-Filipe, Alexandre Estrela, João Grama, Victor Jorge, José Loureiro, Maria Lusitano, Mariana Marote, Jorge Martins, Noronha da Costa, João Queiroz, Martim Ramos, Sandra Rocha, Julião Sarmento, Miguel Soares, Susanne S. D. Themlitz, Pedro Vaz, Valter Vinagre