“Nem todas as crianças abandonadas que estão em instituições devem ser adotadas”, defendeu Patrícia Reis, autora do livro “As Crianças Invisíveis”, que aborda a questão da adoção, dos maus-tratos e do abandono, em mais uma sessão do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, que teve lugar ontem à tarde, 12 de Outubro.
Neste livro, a ex-jornalista quis tornar visível uma realidade internacional que é o das crianças abandonadas sem rosto que vivem em instituições. Em Portugal há 60 mil crianças e jovens nesta situação. “É chocante, preocupante e invisível”, lamentou Patrícia Reis. Na sua pesquisa, que resultou numa história ficcionada, conversou com dezenas de pessoas, desde responsáveis de instituições a juízes e pessoas que foram adotadas, entre outras. “O que eu fiz foi sentar-me e ouvir”, revelou.
A escritora não tem dúvidas de que há famílias que não têm capacidade para adotarem alguém e crianças que preferem viver numa instituição até aos 18 anos de idade. Na sua obra, relata o caso de uma criança que é adotada e “devolvida meses” depois pela família que a tinha recebido.
Em “A Vida Feliz”, a escritora italiana Elena Varvello também aborda os maus-tratos, ao contar a história de um rapaz solitário que vive com os pais numa zona isolada. O pai foi despedido e começa a perder-se nos meandros negros da sua doença mental. Neste caso, a solidão reflete-se numa grande violência psicológica.
Tal como notou a moderadora do debate, a jornalista Luciana Leiderfarb, ambos os livros acabam por questionar o que é uma família e de que forma ela pode ser positiva ou não para uma criança. “As crianças têm direito ao Amor e isso nem sempre se encontra numa família”, sublinhou Patrícia Reis. É o caso da personagem do livro de Elena Varvello que “tem dois pais, mas não pode trocá-los por outros”.
A curadora do FOLIO AUTORES, Ana Sousa Dias, aproveitou a ocasião também para dizer que as sessões de debate entre autores têm sido muito empolgantes.