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Alunos da Ribeira Brava lançam associação para evitar produtos com fim programado

A Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) destacou, hoje, o projecto ‘Associação Gaivotas Verdes’, elaborado por alunos da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares (Ribeira Brava), como um dos que mais viáveis no âmbito do concurso “Vamos criar uma associação juvenil”, que foi apresentado em mais de 40 escolas do país e apelou para o envolvimento de estudantes do 9.º ao 12º anos em acções de cidadania e voluntariado, levando-os a conceberem projectos originais para problemas concretos das suas comunidades.

Os alunos madeirenses estão em vias constituir a Associação Gaivotas Verdes, que surgiu na escola da Ribeira Brava e se propõe combater junto de fabricantes e consumidores a “obsolescência programada”, isto é, o recurso a produtos tecnológicos cujos componentes eléctricos e electrónicos têm um prazo de funcionamento prévia e industrialmente estabelecido para garantir a sua curta durabilidade e incentivar substituições rápidas. O aluno Tomás Melício reconhece que desconhecia esse problema antes da discussão gerada na escola por iniciativa da FNAJ e quer agora estimular compras mais informadas, sensibilizar fabricantes para estratégias de produção mais responsáveis e dar nova vida aos resíduos e outro “e-waste” resultantes da obsolescência intencional. Para isso, está já a contatar diferentes instituições com vista a angariar apoios como “transporte para ações de sensibilização, cartazes e material pedagógico, e, sobretudo, voluntários que se queiram associar ao projeto e ajudar nas suas ações”.

A campanha da Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) aberta a 4.000 jovens de todo o país originou projetos de associativismo e voluntariado envolvendo professores aposentados, reutilização de tecnologia obsoleta e promoção do emprego, revelou hoje a organização. “Selecionámos dois estabelecimentos de ensino por distrito, sempre em localidades fora dos grandes centros urbanos, e, durante sete meses, ajudámos 4.000 jovens a desenvolverem novas competências, para que melhor pudessem identificar os problemas das suas escolas e comunidades e gerar lideranças com impacto direto no seu dia-a-dia”, explicou à Agência Lusa o presidente da FNAJ, Tiago Rego.

Comunicação, gestão de projetos, coordenação de equipas e gestão de conflitos foram algumas das competências desenvolvidas em ações de sensibilização, sessões de tutoria com facilitadores especializados, eleições e outras iniciativas que “tiraram os jovens das suas áreas de conforto e os levaram efetivamente a agir”, concebendo associações com “projetos exequíveis”.

Para o líder da FNAJ, que representa cerca de 1.200 instituições e 500.000 agentes do movimento associativo jovem português, tratou-se de “uma iniciativa inédita”, sobretudo porque, após a apresentação da campanha nas 40 escolas, um grupo de 50 participantes foi convidado a visitar diferentes instituições do país, numa “experiência única de intercâmbio e aprendizagem coletiva”.

Contactando com associativistas, participando em atividades desportivas, sociais e ambientais, e trabalhando temas como os objetivos de desenvolvimento sustentável das agendas 2020 e 2030 das Nações Unidas, esses 50 jovens selecionaram depois os seis melhores projetos entre os 20 apresentados à FNAJ (o que correspondeu a um finalista por distrito). Seguidamente, uma eleição nacional apurou como grande vencedor do Prémio Inovação FNAJ 2019 o projeto de Beja “Anda lá!”, apostado em criar uma associação que possa desenvolver uma aplicação informática com oportunidades de emprego e voluntariado para jovens da região que não estudem nem trabalhem. “A ‘app’ vai reunir ofertas de trabalho, com o empregador a identificar as suas necessidades de pessoal e o valor que pode pagar pelo serviço, e terá também propostas de voluntariado, o que permitirá a jovens alentejanos adquirirem experiência laboral e cívica, o que é particularmente útil numa área altamente afetada pela escassez de oportunidades”, defendeu Tiago Rego.

Max Supelnic é um dos autores do projeto e reconhece que foi precisamente a dificuldade em encontrar uma ocupação que o inspirou: “Quis ajudar pessoas como eu porque no ano passado andei à procura de um ‘part-time’ para as férias e não consegui arranjar nada, ou porque era menor e não me queriam, ou porque não havia mesmo mais opções”. A equipa de Max ganhou uma visita a instituições da União Europeia com influência nas políticas de juventude, mas, mesmo sem prémio, há duas outras propostas que já se destacam entre as restantes candidaturas pelos passos dados no sentido de formalizar as respetivas associações. Um desses projetos é o já citado da escola da Ribeira Brava e outro é o da futura Associação Juvenil Pa’Ideia, idealizada em Viana do Castelo, na Escola Básica e Secundária de Barroselas: destina-se a criar um banco de professores aposentados que se voluntariem para assegurar explicações gratuitas a estudantes que, embora com dificuldades de aprendizagem em determinadas disciplinas, não têm recursos financeiros para contratar apoio especializado.

Pedro Tilheiro Moreira é um dos autores do projeto e, tendo em conta a formação que adquiriu na campanha da FNAJ, encara a iniciativa como uma forma de também combater o desinteresse eleitoral dos jovens, que “na sua maioria estão de costas voltadas para a política, o que contribui para uma grande abstenção”.

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