Inovação e turismo já não andam de costas voltadas. Novos negócios surgem para dar resposta a um público cada vez mais exigente.
Tem ADN do Norte, mas já conta com outros sotaques. A Portuguese Table é uma startup que tem uma plataforma que reúne anfitriões – “chefs amadores ou profissionais que além de cozinharem têm um prazer em receber em casa” – de Norte a Sul do país. Nasceu há cerca de dois anos e já conta com 53 anfitriões que sonham em mostrar os melhores pratos gastronómicos nacionais. O repasto é acompanhado por vinho ou água. E independentemente da refeição, uma coisa é certa: os refrigerantes estão proibidos.
“O que é realmente fundamental é ser alguém que goste e queira receber em casa. Depois, têm de saber cozinhar. O que é obrigatório é que a pessoa tenha início de atividade [em termos fiscais]. Somos nós que faturamos ao cliente final e ficamos com uma comissão que é a nossa remuneração. O anfitrião fatura a parte dele e nós pagamos-lhe”, diz ao Dinheiro Vivo Paulo Castro, co-fundador da empresa. O cliente é da Portuguese Table e assim é assegurado que “tudo é faturado e que temos os seguros de responsabilidade civil, acidentes pessoais ou de catering”.
Não é segredo. O turismo tem crescido a olhos vistos e é já responsável por uma parte importante do PIB nacional. Os turistas não querem apenas as experiências que os hotéis, o sol e a praia lhes podem proporcionar. Querem cada vez mais conhecer o que é genuíno, “a vida real” dos portugueses. O número de negócios inovadores no setor do turismo tem acompanhado esta realidade. Para se ter uma ideia, em 2017, existiam em Portugal perto de 2300 empresas de animação turística; hoje já são quase 8350, mostram dados cedidos pelo Turismo de Portugal ao DV. E no Alojamento Local a dimensão é ainda maior, havendo atualmente quase 82 mil alojamentos quando em 2017 os números não chegavam aos 54 mil.
“O turismo é dos setores que mais presença digital tem a nível internacional, dos mais avançados, inovadores e que mais adopta novas ideias rapidamente. A inovação a nível turístico não é só digitalização, só tecnológica, passa muito também por serviços”. Estas empresas “estão a beber” conhecimentos em várias áreas e estão muito atentas também à componente da experiência do utilizador”, afirma Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.
Estes novos negócios não florescem apenas no Litoral. A Try Portugal é uma operadora turística que está voltada para o turismo ativo, cultural e desportivo no Interior. Apresenta a turistas – sobretudo escandinavos e do centro da Europa – atividades ao ar livre que vão desde passeios de bicicleta e escalada a caminhadas que permitem conhecer as localidades e lugarejos através de programas criados por si de raiz ou em parceira com empresas locais com estas atividades.
“O nosso site funciona como um marketplace em que somos parceiros e convidamos empresas a colocar os produtos/programas no nosso site e vendemos ao mesmo preço que seria comprado no site deles. Construímos os nossos programas mais completos ode podemos incluir ou não os programas dos parceiros. Temos esta rede de contactos que é mais fácil articular e construir algo mais à medida do que nos é pedido”, nota Luís Bernardo, um dos responsáveis da empresa. Voltado sobretudo para estrangeiro, o contacto com operadores turísticos ocorre sobretudo em feiras do setor com quem travam conhecimento e contratos.
Luís Araújo acrescenta ainda que as “startups são muito mais focadas em componentes digital e serviços” e que isso está a mudar a realidade do setor, que cada vez mais aposta nestes negócios para complementar as suas ofertas ou serviços. É mais rápido e, claramente, mais económico.
É a pensar nos tempos modernos que nasce a Smiity, uma plataforma que faz quase o mesmo que os antigos guias. Quase porque permite uma atualização mais rápida sobre que eventos e atividades estão a decorrer numa cidade, onde é possível comer ou hospedar-se. “A plataforma tem duas vertentes. Uma, e que é visível para o público em geral, que é através de uma aplicação e que é como um guia turístico: o que está a acontecer nas cidades, que eventos e pontos de interesse perto de mim. Não apenas numa lógica de turista mas também dos habitantes, que às vezes também são turistas nas próprias cidades”. A outra vertente não chega aos turistas. Os municípios têm um papel importante na atualização desta ferramenta – que é sempre a mesma – e permite-lhes dar a conhecer mais facilmente o que se passa. A Smiity está já em mais de 20 concelhos nacionais e em perto de uma dezena em Itália. A ambição é chegar a outros países.