A Câmara do Porto tem vindo, nos últimos meses, a proceder a sistemáticos ataques públicos ao “Jornal de Notícias”. Por não confundirmos as pessoas com as instituições e o interesse público com interesses individuais, temos optado pelo silêncio, prosseguindo aquela que é a nossa missão: informar e servir os leitores. Não podemos, contudo, ignorar a gravidade do comunicado publicado no passado dia 20 de março neste portal de um organismo público, perante o qual se impõem os seguintes esclarecimentos:
1. O JN publicou a 14 de março uma reportagem com o título “Pressionados para sair da Baixa”, partindo de queixas de leitores, sobre residentes no Porto que têm sido contactados por imobiliárias, senhorios e outros para abandonar as suas habitações. A reportagem retrata casos reais e todas as pessoas existem, como não poderia deixar de ser, tendo inclusive sido fotografadas. Não foi alterada a idade de nenhum dos moradores nem adulterado propositadamente, como é dito no sítio oficial da autarquia na Internet, qualquer elemento de identificação.
2. Dos cinco depoimentos recolhidos, a autarquia dedica-se sobretudo a desacreditar o testemunho de Carolina Maria Correia Duarte pelas suas ligações ao PSD, acusando o jornal de, por causa disso, ter propósitos políticos. A jornalista que assina a reportagem ouviu-a, na qualidade de moradora, não conhecendo então sequer a sua filiação. A nota vai mais longe e alega que as ligações de Carolina Duarte ao PSD são conhecidas de “todos os jornalistas” da cidade, incluindo “direções”, acusando por isso o JN de “sonegar” propositadamente informação. É uma acusação grave, falsa e que coloca na base da referida reportagem uma intencionalidade que nunca existiu.
3. Ainda quese possa admitir que a opinião de Carolina Duarte possa ter uma motivação política, em nenhum momento esse testemunho condicionou ou influenciou os restantes depoimentos. Os cinco casos relatados são independentes entre si, foram reunidos através de diferentes fontes e não têm qualquer elo político ou de outra natureza.
4. O comunicado chega a questionar a veracidade ou a forma como foi obtida a fotografia de um dos casais. Todas as fotografias foram feitas por fotojornalistas e todos os procedimentos são verificáveis por qualquer instância, não podendo o JN admitir as insinuações feitas em nome da autarquia. Mais, o testemunho de Isaura Pinheiro, que a Câmara filmou para alegadamente desmentir a reportagem do JN, em nada contraria o que nela se afirma. Basta reler a passagem em que a referida moradora salienta a sorte de ter “um bom senhorio”. O comunicado da Câmara do Porto procura criar incongruências onde elas não existem.
5. Além dos referidos moradores, foram ouvidos a Associação dos Inquilinos e Condóminos doNorte e um advogado que defende diversos moradores e que descreve os mecanismos encapotados para facilitar a venda de imóveis. Ouvimos, para a reportagem, dezenas de pessoas e recolhemos diferentes contributos.
6. O JN não tem agenda política, não faz campanha por qualquer candidatura e respeita escrupulosamente as regras legais e deontológicas. O nosso único compromisso é com os leitores, em respeito pela verdade e pelo estatuto editorial que nos orgulhamos de seguir. A referida reportagem procura simplesmente traduzir uma realidade da cidade e refletir sobre o seu crescimento. Uma reflexão que a todos, moradores e instituições da região, deve envolver e inquietar, sem que para isso tenha de se procurar qualquer outra motivação que não apenas a de dar voz ao território em que nos inserimos.
O”noticiado” pela CMP é, pois, total e/ou genericamente falso, e inexacto, colocando o bom nome de um jornal centenário em contextos que lhe são completamente estranhos e demonstrando o crédito que é devido às afirmações por si feitas.
7. O “Jornalde Notícias” é o único órgão de implantação nacional feito no Porto, para o Porto e a partir do Porto para todo o país. Como sempre foi.
A prática”editorial” perpetrada pela CMP não esclarece, nem informa o público, e o recurso a insinuações e a ideias falsas (que por essa prática querem tornar verídicas) é ofensiva do crédito, prestígio e confiança que o “Jornal deNotícias” merece e gravemente atentatória do profissionalismo de todos os que aqui trabalham.
8. Embora percebendo que se aproxima um período de campanha eleitoral, não admitiremos que a estratégia de desacreditar o JN seja feita com recurso a falsidades e afirmações que difamam profissionalmente os seus jornalistas e a memória de uma instituição com 128 anos de história. Esta Direção continuará a fazer, como faz desde que assumiu os destinos deste diário em novembro de 2014, a defesa intransigente do trabalho do JN por todas as vias necessárias. Continuaremos, como em todas as matérias que publicamos, a questionar e a tentar ouvir a Câmara. Continuaremos a fazer jornalismo. Tudo o resto é ruído de campanha eleitoral.
O JN não deixará de atuar, nas jurisdições e foros competentes, em relação a todas e cada uma das falsas e caluniosas afirmações feitas pela CMP.
Afonso Camões
Director do”Jornal de Notícias”
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