A Alemanha, tal como Portugal em relação à guerra colonial, precisa ainda que a literatura aborde o trauma dos nazis e da participação forçada de muitos alemães nas suas fileiras.
Numa conversa sobre a II Grande Guerra esta tarde, 12 de outubro, no FOLIO – Festival Literário de Óbidos, o escritor Ralf Rothmann, a propósito dos seus últimos livros que abordam este tema, mostrou-se preocupado por haver quem defenda que se deva esquecer este período negro da História do seu país, nomeadamente nas escolas. “Isso não pode acontecer, pelo contrário, a literatura tem de manter viva a memória”, defende.
Em “Morrer na Primavera”, Ralf Rothmann recorda o final da guerra, em fevereiro de 1945, quando o exército alemão está a ponto de sucumbir à ofensiva aliada. Nessa ocasião, dois amigos de 17 anos, que trabalham numa vacaria, julgam que nunca serão incorporados no exército e traçam planos para o futuro. No entanto, acabaram recrutados pelas tropas nazis e têm um destino trágico.
É sobre estas memórias de muitos alemães que o escritor quis escrever. Isto porque sempre estranhou a “profunda melancolia” do seu pai, que foi forçado a ingressar nas SS. “Eu adorava o meu pai, era uma pessoa carinhosa e boa, não percebia o silêncio dele sobre a guerra”, contou. Por isso, quis inventar a história do pai e com isso tentar percebê-lo melhor.
Depois do livro ser publicado, fez apresentações por todo o seu país e houve muitos alemães que lhe disseram terem-se reconhecido naquelas dúvidas de que ele fala sobre o pai. “É um problema de toda essa geração. Nem todos os que usavam uniforme nazi eram nazis”, referiu.
Gabriela Fragoso, tradutora de “Morrer na Primavera”, explicou ao autor que se passa o mesmo em relação aos jovens que foram forçados a combater no Ultramar.