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“Eu não leio os livros de Salman Rushdie”

O escritor está em Portugal para promover o seu mais novo romance e participar no Folio. Esgotou o auditório do Vila Literária de Óbios e deu mais de 200 autógrafos de seguida.

“Poucos livros mudam o mundo” afirmou o escritor Salman Rushdie na sua aparição no Folio, o Festival Literário de Óbidos. E diz-se aparição porque foi esse o estatuto do autor mais perseguido do mundo contemporâneo por causa do seu quinto livro em dezassete já publicados, Versículos Satânicos, o qual lhe valeu uma fatwa que o obrigou a estar escondido durante dez anos para não ser assassinado por um fiel do islão. Uma maldição que ainda hoje se mantém conforme era visível no reforço da segurança ontem em Óbidos com a presença constante de três discretos guarda-costas.

Rushdie parece estar tão acostumado a isso que não se lhe nota um olhar de preocupação enquanto se expõe no palco bem à vista de todos, pelo contrário, sorri bastante durante a conversa com Clara Ferreira Alves durante hora e meia, contando inúmeras piadas e fazendo grandes críticas ao que o proibiu de viver uma boa parte da sua vida em liberdade: “A religião é uma non-sense”. Mesmo que este seja um tema sempre presente na sua obra: “É como se estivesse no meio de uma grande sala mas mesmo assim não fosse possível passar despercebida”.

A propósito dos livros que mudam o mundo, Salman Rushdie dá como exemplo o ‘1984’ e os de James Joyce, referindo que o de George Orwell não se confirmou porque faz uma previsão da vitória da tirania na História mas tal jamais acontecerá enquanto houver a componente humana. Quanto o irlandês é mais assertivo: “Quem entra num livro de Joyce não sai a mesma pessoa.” Quanto a comparações com a influência dos seus livros, avisa: “Eu não sou Kafka a escrever a ‘Metamorfose’. Nos meus livros, os leitores não aceitam o que se lhe dou se não estiver bem explicado, nele sim.”

Ainda fala um pouco mais da sua obra, quando garante que nunca os lê depois de terem sido publicados. Arranca mais uma salva de palmas, das várias que foi recebendo ao longo da prestação, ao revelar: “Eu nunca leio os livros de Salman Rushdie.” Mesmo que essa situação lhe traga um grande problema: “Estou sempre com receio de fazer repetições de um situação de um livro num outro posterior, com já me aconteceu segundo me informou o meu tradutor irlandês. Essa é a única consequência de não me reler.”

Ainda faz outra afirmação sobre os seus livros: “Tem o poder de tornar realidade uma coisa que ainda não aconteceu.” E dá o caso de uma personagem com o nome de Isis no seu último romance, que “há cinco anos quando comecei a escrever o livro era apenas um nome egípcio e hoje [nos Estados Unidos] significa Estado Islâmico.”

Quanto ao modo como cria as personagens é-lhe impossível não sentenciar: “As mais nojentas são as mais interessantes”. No que respeita à criação dos livros, garante que a inspiração vem de todos os lados: “Gosto de passear e sair da minha zona de conforto para ouvir o que as pessoas dizem na rua ou nos cafés.” Mas aproveita o momento para recusar que as redes sociais o inspirem: “Já não posso ver o pássaro azul (Twitter), ou o Facebook.”. Considera que as pessoas estão menos civilizadas devido ao uso intensivo dessa tecnologia de comunicação: “Antes, se alguém andasse a falar sozinho ao telemóvel na Times Square era louco, agora apenas está ao telemóvel.” Dá um exemplo: “Donald Trump é a consequência de uma geração que não é educada como até aqui”. Em resumo, define a atualidade assim: “Vivemos no tempo das trevas.” Um desabafo momentâneo no meio de 90 minutos de uma grande “atuação”.

Fonte: DN

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