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Festival Bonfim à Janela despede-se com promessa de uma segunda edição

Embelezar as fachadas do Bonfim, estreitar os laços comunitários, recuperar ofícios antigos e, pela interação comunitária, promover esta freguesia do Porto foram os objetivos do Festival “Bonfim à Janela” que começou em maio e termina este sábado, 9 de setembro.

Flores, pinturas, trabalhos de macramé, croché ou serralharia, entre outras artes, povoaram janelas, varandas e montras do Bonfim ao longo de cinco meses.

A concurso propuseram-se 33 participantes e ovencedor será revelado na sessão de encerramento do dia 9, no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim.

Muito mais do que um concurso (a cujo primeiro prémio corresponde um prémio monetário de 150 euros), a iniciativa, concebida pelas arquitetas paisagistas Joana Veiga e Mena Andrade, em parceria com a Junta do Bonfim, pretendeu “semear” o conceito de “cidade feliz”, convidando a população residente a “intervir numa freguesia com potencial para ter fachadas mais bonitas, beneficiando do clima de verão”.

O grau de envolvimento da população com o projeto, assim como a rede de partilha comunitária que se criou, excedeu as expectativas das mentoras e técnicos envolvidos. “Todas as idades quiseram estar à janela do Bonfim, aprender e ensinar a florir a freguesia”, explicou Mena Andrade.

O Lar Nossa Senhora do Livramento e a IPSS Senhor do Bonfim, assim como o comércio local, não deixaram passar em branco o evento e ornamentaram de forma criativa e muito verde os seus espaços. “Um bocadinho de cada canto do país e mesmo do mundo está instalado nesta freguesia e isso refletiu-se nas criações de cada um”, disse.

Ao conceito é intrínseca a intenção de “combater o isolamento das pessoas” e criar espírito de comunidade, através da partilha de um interesse comum, da competição saudável e da “troca de saberes”.

O casal de chineses vindos de Hong Kong e com um comércio na freguesia aderiu de imediato de forma entusiasta, comprando material de jardinagem, flores e frutas artificiais, gaiolas para pássaros, mas também plantas e flores naturais.

A ótica do Campo 24 de Agosto foi buscar ao baú o croché feito pela dona da loja que, mesmo contrariando as tendências atuais que o consideram démodé, embelezou a montra. Várias pessoas entraram na loja a elogiar a decoração.

Dois dos estabelecimentos de ferragens da freguesia têm como principal decoração as plantas e um deles até adotou um periquito simpático e alegre.

Um casal que vive na mesma rua desde sempre possui um verdadeiro oásis no coração do Bonfim, com um espólio vegetal de grande interesse e promotor da biodiversidade, enriquecido por pequenas obras de arte feitas pela dona da casa e netos.

“À janela com a antiga professora primária, dividimos histórias de vida e partilhámos sonhos e muitas ideias. Com as suas netas colámos fitinhas, fizemos tranças e umas pipocas maravilhosas”, exemplificou a arquiteta.

Em suma, dos 7 aos 97 anos, todos quiseram envolver-se na iniciativa.

“Uma senhora, com perto de 97 anos, inscreveu-se apenas para a visitarmos, para conversar, para nos falar da sua horta e mostrar as suas plantas, tão bem tratadas… Um menino, de 7, não queria estar em casa a ver TV! Preferiu estar no pátio a pintar vasos e a fazer flores de plástico, com reutilização de garrafas”, contou a mentora.

O festival envolveu, ainda, a realização de uma feira na Praça da Alegria, bem no centro do Bonfim, e também de um workshop oferecido pela Câmara do Porto para ensinar a ornamentar uma floreira, tendo em conta as espécies mais adequadas e técnicas de jardinagem.

Ficam as histórias, as partilhas, as amizades e laços criados, tudo espelhado na criatividade que serviu para unir e arrancar sorrisos de uma vizinhança com nome e que passou a tratar-se por “tu”.

De coração cheio, a organização, que também contou com a colaboração da designer gráfica Marta Morgado e as fotografias de Joana Tender, já pensa na segunda edição que deverá esperar pelo bom tempo da próxima primavera.

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