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Folio, à terceira vai ser de vez um festival internacional

O fadista Camané foi brilhante a interpretar as canções de Tom Jobim, confirmando que Óbidos é um ótimo laboratório para a criatividade cultural

Com o correr do pano após a representação do conto de José Saramago, A Ilha Desconhecida, pelo grupo de teatro ACERT, fechou a segunda edição do Folio, o Festival Literário Internacional de Óbidos. Desta vez muito mais internacional devido à presença de um excecional ator como é o escritor Salman Rushdie, até esmo pelos momentos confrangedores do Nobel V.S. Naipul, praticamente incapaz de se dirigir à audiência com um discurso sobre a oficina da literatura.

Nada que tenha impedido a ida ate Óbidos de alguns milhares de interessados, e curiosos, numa programação muito razoável, mesmo que não tenha rivalizado a cem por cento com a surpresa temática do primeiro ano, mas que adianta a suspeita de que à terceira edição será de vez o momento de se impor no circuito de festivais literários mundial. Até porque se este ano a Secretaria de Estado da Cultura brasileira já financiou a presença de uma boa delegação dos seus autores, para o ano o Canadá já informou que quer estar presente e deseja intercâmbio. Quem o revela é Telmo Faria, que foi o autarca impulsionador da ideia de transformar Óbidos numa Vila Literária e que abriu um concurso público para encontrar parceiros. A Ler Devagar venceu-o e acampou em Óbidos com mais de uma dezena de livrarias, uma das quais na icónica igreja de São Tiago, e avançou com o Folio. José Pinho, das livrarias, refere que o envolvimento da sociedade civil na organização do evento cresceu bastante da primeira para a segunda edições, tal como o ex-autarca considera que a desconfiança da população em relação às atividades literárias já foi superada e o movimento de visitantes nestes doze dias de Folio prova que viajar até Óbidos não é um sonho.

Ontem, último dia do Folio, ainda se realizaram várias das iniciativas que percorreram todo o festival, como foi a programação de poesia organizada por Raquel Guerra e Valério Romão; o lançamentos de livros, como o caso da Bíblia traduzida do grego por Frederico Lourenço. Diga-se que o efeito Folio sentiu-se na vida literária da capital, pois durante este período diminuíram em muito as iniciativas no campo do livro ou foram transferidas para Óbidos.

Se a presença de Rushdie levou mitos editores da capital até à Vila Literária, também vários autores lá foram durante a dúzia de dias promover livros novos. Foi o caso da historiadora Irene Flunser Pimentel e a sua mais recente investigação, O Comboio de Luxemburgo. A autora, além do seu lançamento, aproveitou para assistir a várias sessões em curso: “Gostei imenso de uma sobre Guimarães Rosa e do convívio que se observa entre os visitantes.”

 

Camané com Tom Jobim

O Folio não é só literatura, houve teatro, poesia e muitas exposições a evocar a obra de autores do passado e bastantes a mostrar o trabalho dos do presente. Respetivamente, Ruy Belo e ilustradores portugueses. Houve sessões de cinema e instalações surpreendentes, como Lúmen de Rui Horta na igreja da Misericórdia; houve feiras do livro antigo e atual; houve conversas com autores pouco conhecidos em Portugal, como o islandês Jón Kalman Stefánsson, que protagonizou a mais divertida e culta conversa na Tenda dos Autores; houve concertos de música clássica; houve leituras de autores clássicos internacionais com Cervantes, Shakespeare, ou nacionais como Fernando Pessoa e Sá-Carneiro e Camões… Houve de tudo, diga-se.

Entre os momentos mais surpreendentes do Folio, além do do mestre Rushdie a seduzir os leitores sem qualquer esforço, pode-se apontar o concerto de Camané, a quem foi feito o desafio de cantar canções assinadas por Tom Jobim. O fadista pegou no temas do brasileiro e reinterpretou-os surpreendentemente. Para os que têm memória do início da carreira de Jobim, parecia estar-se a reviver o momento em que ele foi convidado por Frank Sinatra para fazer um álbum em conjunto, para que o cantor norte-americano aproveitasse a boleia do sucesso mundial de Garota de Ipanema, entre outros. Camané fez como Sinatra, pegou nos temas mais conhecidos e trabalhou à sua maneira aquelas canções mundialmente conhecidas. Tão bem o fez que teve de regressar três vezes ao palco e até cantar um fado para e homenagem a Jobim e evitar repetir o que já tinha cantado antes. Mesmo o facto de ter cantado com um pé no brasilês foi desculpável, até porque é desnecessário conforme se observava quando o fazia sem sotaque, já que o seu trabalho de voz superava necessidade de imitações.

O concerto levou mais de quatrocentas pessoas a Óbidos, algumas dezenas das quais tiveram de se sentar nas redondezas por falta de lugar. À terceira canção, quando já tinha a plateia consigo, acendeu um cigarro e continuou ao som da guitarra de Proença: “Parece que estou a cantar fado”, disse, como que surpreendido pela reação entusiástica do púbico. Ou quando confessou “estamos a chegar ao fim” e o público responde em coro com um ohh de desilusão. Curiosamente, tal como na homenagem feita ao compositor Tom Jobim na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, nunca se referiram os nomes dos parceiros que compuseram consigo algumas destas canções que ficam para a história da Bossa Nova, como Desafinado [com Newton Mendonça] popularizada por João Gilberto – numa brilhante interpretação de Camané -, ou, por exemplo, aquelas em que contou com as letras de Vinicius de Morais.

O concerto de Camané confirmou o Folio como um ótimo laboratório de projetos culturais,bem como o facto de que a literatura convive bem com outras artes.

Fonte: DN

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