Com o crescimento, este ano, do tamanho da comitiva de escritores brasileiros, o Folio vai configurando-se como o mais importante evento para a ampliação da presença da literatura brasileira em Portugal, que é, no momento, ainda estranhamente muito reduzida. E é por meio dos esforços individuais de pessoas como José Eduardo Agualusa e José Pinho que talvez venhamos a quebrar o gelo de uma relação tão ambígua como a que desune Portugal e Brasil. Percebe-se que há uma tentativa, verdadeira e quase heroica, de algumas editoras portuguesas de apresentar os livros brasileiros em Portugal, mas que sempre esbarra na ignorância generalizada da nossa produção contemporânea – o que não ocorre, por exemplo, no Brasil em relação a Portugal, onde autores como Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Inês Pedrosa, entre outros, são conhecidos e muito bem recebidos. Além disso, o Folio oferece um espaço privilegiado para que conheçamos, nós, os brasileiros, a literatura africana escrita em português, que existe para além do próprio Agualusa, de Mia Couto e da Paulina Chiziane, que contam também com bastante prestígio no Brasil. Há mais que um oceano separando Brasil de Portugal e da África: há preconceitos, desentendimentos, incompreensão de lado a lado. O que o Folio está oferecendo, de maneira irretocável, é a oportunidade de sentarmos todos à mesa, todos aqueles que desejam esse estreitamento das relações, e nos pormos a conversar. Não há dúvidas de que existem enormes questões a serem resolvidas, mas o entendimento ocorrerá, se assim o desejarmos, porque os nossos diferentes sotaques não são tão ininteligíveis uns para os outros a ponto de inviabilizar o diálogo.
Escritor brasileiro
Fonte: DN