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Francis Kéré defende hoje a arquitetura sob o princípio “mais com menos”

O arquiteto Francis Kéré, do Burquina Faso, primeiro africano a projetar o pavilhão anual da Serpentine Gallery, está no Porto para defender que projetar é um ato social e deve ser concretizado segundo o princípio “mais com menos”. A sessão tem início pelas 21,30 horas de hoje, no Rivoli, no âmbito do Fórum do Futuro.

Francis Kéré começoumuito novo a trabalhar aos fins-de-semana nas obras no seu país natal,carregando baldes de cimento e material pesado. Confessa que não se apercebeude imediato que estes caminhos estavam a levá-lo na direção do seu projeto devida – a arquitetura – e que, frequentemente zangado, se questionava por quenão podia jogar futebol, como todas as outras crianças.

Frequentava a escola, umedifício apinhado e muito quente, e pensava em como transformar as instalaçõesem algo simples, mas confortável.

“Cresci com a ideia detornar as coisas melhores um dia”, diz Francis, “e apercebi-me que poderia fazê-losendo arquiteto, tentando melhorar o meio ambiente. Quando acabei de construira minha primeira escola, pensei que era algo de muito bom e que queriacontinuar a fazer”.

De resto, a sua práticaprofissional é exemplo dessa convicção, já que se desenvolve frequentemente emgeografias desfavorecidas, utilizando materiais locais e mobilizando ascomunidades para quem e com quem é realizada. Sustentável e com consciênciasocial – esta é uma forma possível, radicalmente simples e simultaneamenteinovadora, de fazer arquitetura.

A inspiração surge a estearquiteto através da natureza, precisamente porque é tão forte. Gosta de criarestruturas simples, mas fortes como “uma árvore – afirma Kéré – que permaneceno meio ambiente, sobrevivendo aos elementos e providenciando abrigo; esta é averdadeira inspiração”.

 

Fórum do Futuro é realmente poderoso

Quando recebeu o convitepara participar no Fórum do Futuro no Porto, o arquiteto,que já conhecia a cidade, aceitou de imediato pois considera que “o Fórum doFuturo contribui para que as pessoas possam aceder a tendências, conversar comos especialistas e descobrir os seus projetos. Isto é realmente poderoso. Porisso, quando me convidaram, eu simplesmente vim”, diz o arquiteto.

No futuro, Kéré esperacontinuar otimista e entusiástico no seu papel de arquiteto cujo propósito devida é “servir as pessoas, a humanidade”, continuar informado sobre o que sepassa no mundo, em África em especial, e prosseguir o desenvolvimento deprojetos com os materiais de que dispõe. Por isso, viaja muito, embora esteja radicadoem Berlim, para estar a par das últimas tendências.

Embora não goste demencionar arquitetos vivos como as suas principais fontes de referência, porquesão muitos os que admira, confessa que fica maravilhado com o trabalho de SizaVieira.

Encontra também em LouisIsadore Kahn uma das suas referências mais significativas pelo facto de terconseguido ser bem-sucedido tanto nos EUA como na Índia, um país pobre, ou em Miesvan der Rohe que “conseguiu fazer com que um tijolo fosse muito mais do que umsimples tijolo”.

Francis Kéré assume comhumildade que quando se tem uma oportunidade como a que ele teve – a de ganharuma bolsa de estudo do governo alemão para estudar na Alemanha – se deveagarrá-la, pois “não é fácil estudar arquitetura em África, não existedisponibilidade de meios como no Ocidente e as pessoas estão sempre a perguntarpor que estamos a investir tanto tempo nisto. É muito difícil, em especial paraas mulheres, estudar arquitetura em África”.

Para Francis, o maisimportante é sentar-se com um cliente e estudar as possibilidades dedesenvolver uma infraestrutura. Em especial no Burquina Faso, onde as pessoasestão sempre prontas a ajudar. “É como se fosse um cozinheiro: temos que verquais os ingredientes locais que podemos usar para cozinhar uma refeiçãomaravilhosa”, conclui.

Kéré assume-se muitofeliz por participar no Fórum do Futuro na cidade do Porto, uma cidade “muitorica” que mostra “o quanto se importa com o seu próprio futuro e o do seupovo”.

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