“Não podemos deixar morrer a utopia, porque a utopia não é de esquerda nem de direita”, afirmou esta quarta-feira Marcelo Rebelo de Sousa, que visitou de surpresa o Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos.
O Presidente da República, que deambulou pelas ruas medievais da vila que passou a integrar a rede de “cidades criativas” da UNESCO, em 2015, considerou que “a direita não tem que ficar complexada pelo facto de a esquerda se crer utópica, nem a esquerda tem que ficar complexada se a direita quiser ser utópica”. Importante, frisou o chefe de Estado, é que “os portugueses não deixem de perseguir a utopia na sociedade, na economia e na política, mas de forma plural, porque só assim se foge ao populismo antissistema”. A ausência de pluralidade, sublinhou, “não serve a democracia, não serve o Estado de direito, não serve a Constituição e, sobretudo, não serve os portugueses”.
A insistente referência à palavra utopia prende-se com a celebração dos 500 anos sobre a publicação da “Utopia”, de Thomas More, que está a ser abundantemente assinalada no Folio.
Marcelo chegou cerca das 16 horas, acompanhado de Pedro Mexia, seu assessor cultural, por um representante do Estado Maior do Exército e pelo restante staff presidencial. A comitiva desfilou pelas ruas pejadas de livrarias, lojas de artesanato e restaurantes, em que despontam a cada esquina bancas com a famosa ginjinha de Óbidos.
Os grupos de turistas iam observando com interesse a passagem daquela animada procissão, notando que seria importante sobretudo pela presença do militar. Marcelo ainda acedeu a uma fotografia pedida por um francês e foi espalhando a sua habitual simpatia pelos populares.
O seu roteiro iniciou-se no Óbidos Lounge, onde Vera San Payo de Lemos explicava as diferenças entre o teatro dramático, de matriz aristotélica, e o teatro épico, teorizado por Bertolt Brecht. Marcelo ouviu a aula com atenção e depois escutou os “segredos” soprados através de um tubo por alunos de uma turma de Vila Franca de Xira, que participavam na oficina “Oceanutópicos”. A peregrinação desembocou a seguir no debate “Jornalismo, Utopia e Economia”, protagonizado pelos jornalistas Nicolau Santos e André Macedo. Antes de partir, Marcelo visitou ainda a exposição “O lagarto”, no Museu Abílio, que junta as palavras de José Saramago e as xilogravuras do artista brasileiro J. Borges.
Muito mais lhe faltou ver, num dia que ficou ainda assinalado pelo concerto de Francisco Sassetti e Luís Madureira intitulado “Brecht: piano e voz”, pela exibição do filme “Ópera do malandro”, de Ruy Guerra e pela tertúlia “O jardim das delícias – artes, literatura e educação, a partir da obra de Hieronymus Bosch”, que teve a participação de Helena Vasconcelos, Manuel João Ramos e Rui Horta. Óbidos tem estado numa roda-viva com o Folio.
Fonte: Jornal de Notícias