Companheiros de página no jornal brasileiro “Globo”, enquanto colunistas, os escritores Geovani Martins (Brasil) e José Eduardo Agualusa (Angola) conheceram-se ontem à noite, 18 de Outubro, pela primeira vez, numa sessão do FOLIO AUTORES, em Óbidos. Para José Eduardo Agualusa foi um regresso a Óbidos e ao FOLIO. “Voltar é sempre um grande prazer”, salientou.
Embora o tema do debate fosse “O Medo no Presente”, os dois autores pautaram-se por um grande otimismo durante a conversa, sempre com muitas gargalhadas entre o público. “As pessoas estão deprimidas, mas é preciso pensar e falar noutras coisas”, considera Geovani Martins. O maior medo do autor brasileiro foi sempre o de não ser livre. Algo que sentiu primeiro quando receou ter de ficar o resto da sua vida a trabalhar em algo que não gostava e depois com o receio de vir a ser preso.
Já para José Eduardo Agualusa, um dos seus medos é da polícia, principalmente nos aeroportos, onde já passou por situações muito caricatas. No entanto, do que o escritor angolano tem mais medo é mesmo “da estupidez e do que acontece quando a estupidez ganha o Poder”. Algo que considera não ser pior agora do que em períodos mais longínquos da História. “O que estamos a ver agora são os ‘sobreviventes’ dessa era da estupidez mais arcaica”, afirmou.
Para Geovani Martins “um dos maiores problemas deste ‘tempo de estupidez’, de que fala Agualusa, é a obrigação de se ter opinião sobre tudo”, quando isso não é possível. José Eduardo Agualusa sugeriu que, pelo menos, as pessoas estudassem História para não terem uma análise tão simplista sobre os temas.
Geovani Martins viveu em favelas no Rio de Janeiro e habitou-se a uma violência diária que relata nos contos que escreve, mas salienta que não pode haver “naturalização da violência”. De qualquer forma, também não há uma normalidade única a ser imposta e sim “diferentes tipos de normalidade” na vida das pessoas. Para o brasileiro, a realidade dos muros que dividem pessoas, de que tanto se fala agora, foi a sua realidade desde que nasceu.
Outro alerta que deixou José Eduardo Agualusa foi para os excessos do politicamente correto e para o revisionismo literário, o que dar razão à extrema-direita, quando a liberdade de expressão deve ser uma bandeira dos moderados.