Esta será uma ocasião única para contemplar a totalidade desta coleção e também a primeira oportunidade de ver o resultado das importantes obras de restauro realizadas na Sala do Capítulo do Convento da Graça, no âmbito do protocolo entre a Câmara de Lisboa, a Fábrica Paroquial da Freguesia de Santo André-Graça e a Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça.
A neta de Diamantino Tojal, Nazaré Tojal, lembrou a memória do avô e os quatro anos que dedicou à construção das peças que ora compõem a exposição, terminando por agradecer à CML a oportunidade de possibilitar esta exposição e de a abrir à comunidade.
Joana Sousa Monteiro, diretora do Museu de Lisboa, também usou da palavra para agradecer a todas as entidades que estiveram envolvidas na elaboração da exposição composta por centenas de peças que se entendem numa vitrine com cerca de 24 metros de comprimento.
José Sá Fernandes lembrou o seu empenho pessoal no sentido de possibilitar a abertura dos claustros e da sala onde decorre a exposição à comunidade e que hoje, fruto de um laborioso trabalho de restauro está agora acessível ao público de Lisboa, chamando particular atenção para o restauro dos azulejos.
Referindo-se à exposição notou que, representando as peças as diversas corporações e congregações que nela participavam, o que aqui está patente é um retrato da cidade.
Helena Roseta agradeceu a Sá Fernandes o empenho pessoal na realização desta exposição e a todas as entidades que nela participaram “porque esta é uma exposição que reflete a vida da cidade e aqueles que nela participavam”.
Lembrando a importância agregadora da procissão para a vida comunitária referiu a importância do regresso do feriado de 15 de junho para dar continuidade a essa tradição.
D. Joaquim Mendes referiu a importância do espaço agora recuperado e a importância da exposição no sentido de aproximar o Convento da Graça para a comunidade.
O bispo auxiliar de Lisboa notou ainda como a exposição demonstra a manifestação de fé da cidade e a importância histórica de cada uma das congregações que nela participaram, como exemplo de comunhão de comunidade.
A intervenção terminou com um agradecimento à CML e a todas a entidades que tornaram possível a sua realização.
A mostra reconstitui a exposição original apresentando as 1587 miniaturas, em barro não cozido, que retratam a procissão do Corpo de Deus como seria no século XVIII, concebidas e moldadas à mão, entre 1944 e 1948, pelo empresário Diamantino Tojal.
O vasto conjunto, que faz parte do acervo do Museu de Lisboa, apenas tinha sido apresentado na sua totalidade em 1948 no Palácio Galveias.
Em 2016, algumas peças foram expostas, durante cerca de uma semana, nos Paços do Concelho para assinalar a reposição do feriado nacional.
A procissão do Corpus Christi, que se celebra na quinta-feira a seguir ao Pentecostes, foi instituída por Urbano IV, em 1264, e é provável que o bispo de Lisboa à época, D. Mateus, tenha introduzido a festa no calendário litúrgico da cidade.
No século XV, era já a mais importante procissão lisboeta. O seu cortejo era memorável pela pompa, luxo e ostentação exibida por todos os estratos socioprofissionais da cidade.
No reinado de D. João I, tinha especial destaque a figura de S. Jorge, então padroeiro do reino, que fazia parte de um grupo alegórico que incluía o santo guerreiro, montado num cavalo branco, acompanhado por pajem e alferes.
Este último, por ostentar armadura, era conhecido por Homem de Ferro, e seguiam-se cerca de 50 cavalos conduzidos à mão.
Verdadeiro espetáculo público que juntava, num mesmo acontecimento, toda a cidade e os seus habitantes, a procissão era cenário religioso, mas também profano.
As corporações, agrupadas na Casa dos Vinte e Quatro, levavam as suas bandeiras e, a acompanhá-los, ia toda a espécie de carros e apetrechos: castelos, insígnias, o dragão dos sapateiros, a nau dos calafates…
Também as dezenas de confrarias religiosas estavam presentes, com os seus pendões e charamelas, de que se destacava o bando musical conhecido por Pretos de S. Jorge. Em algumas épocas, desfilaram também diabos, príncipes, feiticeiros e cómicos.
A exposição Corpus Christi. A procissão do Corpo de Deus por Diamantino Tojal estará patente até 1 de outubro.