Unindo os discursos do Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente da Comissão Organizadora do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Sobrinho Simões, fica a ideia de um país que soube integrar em si o mundo e hoje deve ser inclusivo. No Porto, valores como independência, liberdade e conhecimento marcaram as cerimónias oficiais do 10 de Junho, que decorreram na marginal atlântica, envolvendo meios de ar, água e terra das Forças Armadas.
Independência, liberdade e universalismo foram valores afirmadosesta manhã pelo Presidente da República, que no seu discurso do Dia de Portugaldefendeu um país “independente do atraso, da ignorância, da pobreza, dainjustiça, da dívida, da sujeição; livre da prepotência, da demagogia, dopensamento único, da xenofobia e do racismo”.
Na conceção dessa realidade, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou quehoje é Dia de Camões, portanto “da nossa Língua, da nossa educação, da nossaciência, inovação, conhecimento, como que a dizer-nos que só seremos portadoresde independência, da liberdade e de universalismo se juntarmos à culturaancestral a antecipação do futuro”.
Porqueé, também, Dia das Comunidades Portuguesas – ao encontro das quais viajou estatarde para o Brasil, onde vai concluir o programa comemorativo do 10 de Junho -,o Chefe de Estado lembrou a nossa diáspora “que nos faz universais”. E defendeuque as comunidades lusas espalhadas pelo mundo devem estar “mais presentes” nas”nossas leis, nas nossas decisões coletivas, na nossa economia, mas sobretudona nossa alma”.
Respeitarquem deu e dá a liberdade ao País foi outra tónica do curto discurso doPresidente, que deixou aos portugueses uma visão de integração e participaçãode todos nos desígnios nacionais, até porque é mais “aquilo que nos aproxima doque o que nos afasta”.
Etalvez assim seja porque, pegando nas palavras do presidente da ComissãoOrganizadora do Dia de Portugal, os portugueses têm “uma mistura notável degenes com as mais variadas origens”. “Se há algo único, ou quase único em nós,é essa mistura genética”, afirmou Sobrinho Simões.
Como explicou o patologista e investigador portuense, o povoportuguês tem uma “extraordinária diversidade genética” porque incorporou e semisturou, ao longo de séculos, com povos de todo o mundo; “porque fomos atravésdo mar para tudo quanto era sítio na África, na Ásia e na América do Sul e delá voltámos com filhos e, sobretudo, filhas”.
Coma incorporação de genes foram incorporadas culturas, criando-se “uma sociedadede gentes muito variadas, tolerante em termos religiosos, avessa aosextremismos pseudo-identitários que irrompem um pouco por todo o lado”, vincou.
Porisso mesmo, defendeu o fundador do Instituto de Patologia e ImunologiaMolecular e Celular da Universidade do Porto, “deveríamos ser capazes deintegrar gentes que se veem obrigadas a fugir de casa”, mostrando “umacomunidade inclusiva e solidária, uma comunidade que percebe o valorsociocultural, económico e até demográfico da integração dos migrantes. Somosuma das sociedades com menos filhos do mundo”, lembrou. “Continuamos,infelizmente, demasiado individualistas e ainda não somos uma sociedade de contrato.Lá chegaremos, espero”.
Sobrinho Simões não quis deixar de lembrar “personalidadesímpares” que desapareceram este ano, identificando Mário Soares, Daniel Serrão,Miguel Veiga e João Lobo Antunes como “portugueses de eleição”.
Noseu discurso, o investigador afirmou também que “temos de ser exemplares, decima para baixo, na organização social e na seleção das lideranças”, sendo que “oprivilégio tem de ser acompanhado de responsabilidade”, e pediu um país com “instituiçõesfortes” que “criem oportunidades, recompensem o mérito e potenciem a capacidadedo saber fazer”. A aposta na educação foi outro ponto focado por SobrinhoSimões, que concluiu: “Graças a nós e às nossas circunstâncias, temos todos osingredientes, dos genéticos e ambientais aos socioculturais e tecnológicos paraaproveitar, pela positiva, os tempos difíceis que se vivem na Europa e o mundo.Os nossos netos não nos perdoarão se desperdiçarmos a oportunidade”.
As cerimónias oficiais do Dia de Portugal concentraram-se hoje nolargo do Molhe e integraram, entre outros momentos, a homenagem aos Mortos emCombate, perante antigos combatentes de guerra, e a imposição de condecoraçõesmilitares. Com uma moldura humana feita por inúmeros populares que começaram ajuntar-se de manhã bem cedo, desfilaram depois perto de 1.500 militares dasForças Armadas pelas avenidas de Montevideu e do Brasil.
De volta ao Porto onze anos depois, as celebrações do 10 de Junhomerecem, na cidade, um programa de cinco dias. Desde quinta-feira passada que aAvenida dos Aliados e Praça D. João I estão ocupadas pelas Atividades MilitaresComplementares. Esta demonstração de meios e capacidades da Marinha, da ForçaAérea e do Exército pode ser visitada pelo público hoje e amanhã. Recetivos àcuriosidade dos civis, os militares abrem as portas a inúmeras atividades evisitas gratuitas.