Olivier Saillar trouxe ao Porto uma peça que encheu durante dois dias o Salão Árabe do Palácio da Bolsa. Mas “Couture Essentielle” é mais do que original. É também surpreendente.
“Se queremos apresentar um desfile de moda, programamo-lo no exterior, fora dos circuitos estabelecidos, fora da moda. Se a nossa intenção é produzir e divulgar esta coleção, organizamos um showroom performance onde o que está à venda pode não ser a roupa propriamente dita. Nem griffe, nem etiqueta, esta coleção é um “S.O.S.” ao mundo da moda. Resulta do trabalho de principiantes da costura, operárias e operários qualificados, que se foram revelando em casas famosas. Apela às nossas memórias de modas, procura uma arte da aparência, no seio da qual o gesto, a palavra e o vestuário já são trajes. O resultado é uma coleção de roupas-memórias, objetos, de peças de roupa e de segmentos corporais em que a história da moda oficial, mas também íntima e quotidiana, funciona como um material de criação”, assim descreve o historiador e curador de moda a sua peça.
E descreve bem. O que sexta e sábado se assistiu no Palácio da Bolsa, por iniciativa do Teatro Municipal do Porto, em estreia, foi uma provocação, interpretada por quatro ex-modelos, mas também actrizes e até cantoras: Christine Bergstrom, Axelle Doué, Claudia Huidobro, Anne Rohart.
Salão cheio – o esmagador Árabe – e muito público, que cedo esgotou as duas sessões. O resto são desfiles ou simulações de desfiles, elegantes, provocatórios, inventados pelo diretor do Palais Galliera, o Museu da Moda de Paris, em França.
Reconhecido historiador de moda, Saillard é comissário de grandiosas exposições na área da moda a nível mundial, como “Alaïa puis Jeanne Lanvin”, no Palais Galliera ; “Paris Haute Couture” no Hôtel de Ville de Paris ; “Madame Grès, la couture à l’?uvre” no Musée Bourdelle, “Christian Lacroix, histoires de mode” (Arts Décoratifs) ; “Yohji Yamamoto, juste des vêtements” (Arts Déco), “Andy Warhol et la mode” (Musée de la Mode, Marseille), entre muitas outras. É autor de uma obra literária abrangente nesta área, «Histoire idéale de la mode contemporaine» (Edition Textuel), através do qual Olivier Saillard identificou e analisou os maiores desfiles dos anos 70 até ao presente. Como parte do Festival de Outono, criou três performances com a atriz Tilda Swinton : “The Impossible Wardrobe” (2012), “The Eternity Dress” (2013) et “Cloakroom” (2014). Em 2015, criou “Models Never Talk” com a participação de sete modelos convidadas e as suas memórias, que foi apresentado em Nova Iorque. A sua arte, esteve no Porto.