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Salman Rushdie: “Estes são os tempos mais negros que eu já vivi”

“A II Guerra Mundial há-de ter sido pior, mas eu só nasci depois. Na minha experiência, estes são os tempos mais negros que já vivi”, afirmou esta sexta-feira Salman Rushdie durante uma conversa moderada por Clara Ferreira Alves, no contexto do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos.

À pergunta da jornalista sobre o declínio do Ocidente, o escritor considerou que existe um “desencanto com a democracia” e que os demagogos estão a aproveitá-lo para fazer caminho. “Os alienados da sociedade voltam-se para falsos profetas, como o Donald Trump ou a Marine Le Pen. Ao Boris Johnson nem lhe chamo falso profeta, chamo-lhe só falso. É das piores pessoas que existem no mundo.” A propósito do “brexit”, Salman Rushdie declarou que “a Inglaterra cometeu um suicídio”.

Mas se o Ocidente está em declínio, o escritor também não vislumbra alternativas melhores noutros cantos do mundo. “A China é um regime altamente repressivo, que nem sequer deixa as pessoas navegarem livremente na internet. E a Índia está a andar para trás, desde a emergência do nacionalismo hindu.

Um dos problemas centrais da atualidade, na opinião do autor de “Os filhos da meia-noite”, é também a religião. “Na minha juventude, nos anos 1960, falava-se da guerra do Vietnam, dos direitos civis, de feminismo, mas ninguém discutia a religião, era um tópico já esquecido. O seu reaparecimento foi uma grande surpresa para mim.” Uma surpresa sentida diretamente na pele quando o Ayatollah Khomeini declarou blasfemo e apóstata o seu romance de 1989, “Versículos satânicos”, e decretou uma “fatwa” contra o escritor.

Sobre a questão dos cartoons do Charlie Hebdo, Salman Rushdie disse que se deve “gozar com a religião porque ela é apenas um “non-sense” que não tem qualquer sentido de humor na sua essência”. Ter maturidade, continuou o escritor, “é aprender a não responder à crítica com violência”.

Mas apesar do quadro negro que foi pintando, Rushdie também considera que “a história não é inevitável e muda de direção constantemente. Se eu dissesse, no início dos anos 1980, que a URSS iria cair, provavelmente chamar-me-iam louco.” Além disso, o escritor não acredita em cenários como aquele que foi desenhado por George Orwell, no livro “1984”, onde é retirada “toda a possibilidade de resistência e de esperança”. A verdade é que nunca houve uma tirania totalmente vitoriosa. Houve sempre vozes contra e areia na engrenagem”.

Sobre a literatura, Rushdie desfiou também algumas ideias. “Não gosto de livros que me digam como pensar. Gosto de livros que me façam pensar e conhecer-me melhor. Não tenho qualquer interesse em lições”. O escritor deverá sair da sua “zona de conforto” e frequentar sítios onde não seria suposto estar, de modo a conhecer todos os níveis da sociedade, como Dickens ou Thackeray, exemplificou. E quando Clara Ferreira Alves lhe perguntou, a propósito do seu último romance, “Dois anos, oito meses e vinte e oito noites”, que mistura seres fantásticos, os “jinn”, com a realidade, se o escritor não teve, nalgum momento, a sensação de estar a ser “demasiado maluco”, imediatamente Rushdie lhe retorquiu que “na literatura não existe essa coisa do demasiado maluco”.

Sobre o poder das palavras, não escondeu algum ceticismo. “Moby Dick é um colosso, mas não mudou o mundo. Nem sequer mudou a pesca.”

Fonte: JN

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