Cumprindo uma tradição, que se repete desde meados do século passado, os afirmam-se, ano após ano, como uma marca incontornável na tradição popular de Lisboa. Desde 2007, a autarquia chamou a si a organização desta iniciativa.
Cinco casais unidos em cerimónia civil
Eram exatamente 11h45 – ou não fosse esta uma cerimónia ensaiada há meses – quando os cinco casais, que optaram simplesmente pela união civil, entraram no Salão Nobre dos Paços do Concelho, para dar início à celebração do casamento.
Na sala, cheia, assistiam Fernando Medina e Helena Roseta, presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal, bem como presidentes de junta das freguesias de origem dos casais.
Antes de ir à varanda, saudar as centenas de pessoas que sempre assistem e partilham desta alegria dos casais, a Vera e o Pedro, a Tânia e o Joaquim, a Rita e o Tiago, a Raquel e o Vítor, a Ana e o Miguel, manifestaram perante a conservadora, Cecília Rocha, ser de sua livre vontade casarem, assumindo, de acordo com a lei portuguesa “um contrato estabelecido entre duas pessoas (muito especial) com vista a uma plena comunhão de vida”.
Por força do casamento, sublinhou, “nasce para o futuro casal um conjunto de deveres: fidelidade, coabitação, cooperação, respeito, e assistência mútua”.
Cumprido o cerimonial, vão agora recuperar forças, enquanto esperam pelos onze casais da cerimónia religiosa. Juntos, vão então desfilar pelas ruas de Lisboa em automóveis antigos, em direção à Estufa Fria, para o “Copo de Água”.
Enquanto isso, lá fora, na Praça do Município, a serenata aos noivos e a animação incansável da Tuna Académica Venusmonti, da Faculdade de Direito de Lisboa, eram, por si só, uma festa, dentro da festa.
Na Sé, a cerimónia religiosa
Dia quente. De sol forte e emoções ao rubro, o largo da Sé apinhou-se à tarde de gente para ver e aplaudir noivas e noivos, sobretudo a elas porque o branco dos majestosos vestidos é sempre deslumbrante. Mais ainda porque realçados pelo contraste com a passadeira vermelha que encaminhava os casais ao altar.
“Lindo, venho aqui sempre que posso”, exclama a dona Rosa. Beautiful, extraordinaire, hermosas… ouve-se à volta, a mostrar esta Lisboa cada vez mais cosmopolita. “Vim de propósito de Carcavelos, apressa-se a informar dona Joaquina”, de 74 anos, enquanto aponta para a filha, Joana, de 25.
Lá dentro todos se alinham, o Coro da Catedral de Lisboa canta “O Senhor dará a vitória ao seu ungido”, nos bancos da frente Fernando Medina e grande parte da vereação assistem. Cá fora o povo não desmobiliza, porque é preciso ainda aplaudir os novos abençoados pelo Santo.
“Irmãos caríssimos: Reunimo-nos com alegria na casa do Senhor para participarmos nesta celebração, acompanhando estes noivos no dia em que se propõem constituir o seu lar. Esta hora é para eles de singular importância. Acompanhemo-los com o nosso afecto e amizade e com a nossa oração. Juntamente com eles escutemos a Palavra que Deus hoje nos vai dirigir. Depois, em união com a Santa Igreja, por Jesus Cristo, nosso Senhor, supliquemos a Deus Pai que acolha benignamente estes seus servos, que desejam contrair Matrimónio, os abençoe e os una para sempre.”
Palavras do cónego Luís Manuel Pereira da Silva, no início da celebração.
“O amor é forte como a morte” (Livro do Cântico dos Cânticos, Cant 2,8-10.14. 16a; 8,6-7ª) foi a primeira leitura da Liturgia da Palavra, a homilia foi dedicada ao Rito do Matrimónio: “Viestes à casa da Igreja, para que o vosso propósito de contrair Matrimónio seja firmado com o sagrado selo de Deus, perante o ministro da Igreja e na presença da comunidade cristã. Cristo vai abençoar o vosso amor conjugal. Ele, que já vos consagrou pelo santo Baptismo, vai agora dotar-vos e fortalecer-vos com a graça especial de um novo Sacramento para poderdes assumir o dever de mútua e perpétua fidelidade e as demais obrigações do Matrimónio. Diante da Igreja, vou, pois, interrogar-vos sobre as vossas disposições”.
E todas e todos disseram sim, entre muita emoção e algumas lágrimas irrequietas, todas e todos saíram sob fortes aplausos, ao som da sempre presente Banda da Carris.
À saída todos se perfilam na escadaria da catedral para a foto de família com Fernando Medina, a presidente da Assembleia Municipal, Helena Roseta e vereadores.
Já casados, era agora tempo de cumprirem o ritual de sempre junto ao santo que os uniu, um pouco mais abaixo, no largo que o viu nascer, para lhe entregarem uma flor. Sempre acompanhados das palmas da multidão, e da Banda da Carris.
A fotografia de todos os casais (cerimónia religiosa e civil) foi no pelourinho da Praça do Município, de onde partiram para o Copo de Água num empolgante desfile de carros antigos.
O Copo de Água
A festa continuou na Estufa Fria, na Casa do Marquês, para o célebre copo de água. Com os convidados a postos, entraram os novos com grande pompa e circunstância, sob uma chuva de aplausos.
Depois os noivos dançaram a valsa e a tradicional coreografia para grande deleite dos convivas. Seguidamente João Paulo Saraiva, vereador das finanças da CML, agradeceu a presença de todos e desejou aos noivos as maiores felicidades, ergueu a taça e brindou aos noivos.
Serviu-se o jantar que este ano com sopa rica do mar e bochechas com batata rosti, com sobremesa de gelado de iogurte grego.
Jantar festivo, na companhia dos próximos, os noivos visivelmente emocionados cumpriram todas as tradições: brindes, discursos, atirar do buquê para esperanças das próximas noivas, beijos apaixonados…
No fim chegou o bolo, distribuído pela família e pelos convivas. Mais aplausos e vivas aos noivos. E a festa prolongou-se, pelo menos até à hora do desfile pela avenida juntamente com as marchas de Lisboa.