O ciclo municipal Um Objeto e seus Discursos por Semana levou mais de uma centena de pessoas ao Museu Militar do Porto, no passado sábado, para ouvir relatos de dois presos políticos.

O dia era 25 de novembro e tinha, por isso, uma carga simbólica acrescida para se evocarem memórias do tempo da ditadura. Também por isso, os convidados Sérgio Valente e Pedro Baptista tiveram uma assistência heterogénea em termos etários e de convicção política, fosse para corroborar memórias ou fosse para aprender História com relatos na primeira pessoa.

O auditório, em que se incluiu o presidente da câmara, Rui Moreira, escutou interessado os testemunhos dos dois resistentes antifascistas que estiveram detidos pela PIDE naquele mesmo edifício, antes da revolução de 1974.

Introduzida pelo diretor do museu, Coronel Oliveira Andrade, a sessão teve como mote o tripé que era utilizado pelos agentes da polícia política para alinhar a fotografia de cada preso. Sérgio Valente, fotógrafo de profissão, contou que se recusou inicialmente a deixar-se fotografar e avançou então para o relato vivido de alguns dos episódios de tortura que ali sofreu enquanto preso político. Também Pedro Baptista, atual deputado municipal do Porto, recordou detalhes das suas detenções e falou de como, a par da tortura, o medo era utilizado como arma pela PIDE. 

As imagens faladas ao longo de cerca de uma hora foram depois complementadas com uma visita guiada às zonas do edifício que preservam – e têm em vias de recuperação com fins museológicos – aspetos físicos da presença e da ação da polícia política do tempo da ditadura.

A direção do Museu aproveitou a presença de Rui Moreira para proporcionar ao presidente da câmara uma breve visita privada às coleções de soldados que fazem grande parte do acervo da instituição. O Museu Militar do Porto está aberto ao público e faculta mesmo visitas gratuitas aos domingos de manhã, entre as 10 e as 12,30 horas.