O bispo Tolentino Mendonça, que vai tornar-se cardeal no sábado, destacou hoje que a diversidade na Igreja Católica é “genética” e que “as sensibilidades nunca foram para deitar fora”.
“A diversidade na Igreja é uma coisa genética, não é um problema, a diversidade é uma riqueza. Se olharmos para a História do Cristianismo, ela é feita de santos tão diferentes, de congregações religiosas, de carismas. A Igreja é uma experiência pneumática que se encontra não na fusão, mas, de facto, numa diferença convergente e o papel” do Papa é de “agregador”, afirmou o futuro cardeal.
Tolentino Mendonça falava aos jornalistas no Vaticano depois de questionado sobre as palavras do Papa Francisco que, na viagem de regresso a Roma, no final de uma deslocação de 10 dias em setembro, a Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias, em setembro, admitiu o risco de um cisma na Igreja Católica e lamentou o comportamento de algumas pessoas que “apunhalam pelas costas”.
Francisco tem sido criticado por alguns bispos e parte de um setor conservador da Igreja Católica por algumas ideias expressas nos seus documentos e que até foram rotuladas como heresias.
“O que o papa disse na viagem foi ‘não tenho medo’. A mensagem não é ‘vem aí um cisma’. A mensagem é ‘eu não tenho medo’”, insistiu o poeta e estudioso da Bíblia, considerando importante que aquele que se imagina a levar um grupo a subir uma montanha ou que está a conduzir um barco não tenha medo.
“E é essa confiança que o Papa Francisco dá à sua Igreja. De resto, nós rezamos todos os dias para que todos sejam um. É esse o sentido de um caminho comum, necessariamente feito na diversidade e na integração dos carismas”, referiu, observando que “isso, desde os primeiros textos das origens cristãs, é alguma coisa muito permanente” para acrescentar que existem quatro relatos da vida de Jesus, os evangelhos.
Para o responsável pela Biblioteca e Arquivo do Vaticano, “as sensibilidades nunca foram para deitar pela porta fora, pelo contrário, são formas de enriquecimento muito importante”.
Questionado sobre que papel pode ter no estabelecimento de pontes e chegar às periferias como homem da cultura que é, Tolentino Mendonça “a cultura é um palco particular para essa dimensão do encontro, da hospitalidade do outro, da escuta”.
“Uma coisa que a cultura me ensinou é que a coisa mais importante que podemos fazer é escutar e é na escuta profunda uns dos outros que nos podemos verdadeiramente encontrar”, declarou.
Segundo o arcebispo português, “a mensagem do Papa Francisco, os desafios que, incansavelmente, ele faz à Igreja do nosso tempo e não só – porque a voz do Papa chega e tem uma autoridade muito para lá das fronteiras do mundo católico – é muito nessa linha, de uma curiosidade com os outros, de encontrar-se com o coração desarmado e de escutar até ao fim a pessoa”.
Já sobre as suas características pessoais que podem ajudar o Papa no programa da reforma da Igreja, Tolentino Mendonça respondeu: “Eu sinto-me – e nisso sou muito sincero – mais um, sinto-me mais um, apenas isso”.