
Com um olho no Teatro Nacional e outro na estação do Rossio, a Espingardaria Central vigia o desaguar da Avenida da Liberdade nos Restauradores, do seu posto privilegiado da Praça Dom João da Câmara.
Atenção: revolwers não é uma gralha. Fala-nos de um tempo em que o duplo-vê tinha o seu lugar na grafia da nossa língua e ocupava o lugar do vê, e fala-nos de mais de um século de hábitos ortográficos, muitos acordos e desacordos volvidos desde 1902, data do primeiro cliente.
A Espingardaria Central nasceu numa década que iria mudar o rumo governativo da nação, apenas uns anos antes da transição da monarquia para a república. De facto, ali foram compradas as armas usadas no atentado contra o rei D. Carlos, incluindo a Winchester que lhe custou a vida. Quem as vendeu foi um jovem funcionário, em inocência do fim a que se destinavam. Esse jovem funcionário, uma vez ilibado de qualquer cumplicidade, viria um dia a tornar-se dono desta loja, emprestando-lhe o nome completo, mas também um reputado atleta olímpico. António Montez esteve presente em Paris, nas Olimpíadas de 1924, classificando-se em 30º na prova de pistola de velocidade a 25 metros. Quatro anos depois, voltou a marcar presença em Amsterdão. Também podia ter ido às Olimpíadas de 1920, em Antuérpia, mas faltou porque estava ocupado com um assunto importante. Justamente, com o trespasse da loja.
Foi nesse momento que se tornou proprietário, e desde então não saiu mais da sua família. Tendo o seu filho de sangue continuado o negócio, foi também “pai” simbólico de muitos atletas portugueses, nomeadamente de António Gentil Martins, que chegou às Olimpíadas de Roma, em 1960. Chamava-lhe “o pai Montez”, tanto como hoje a proprietária, Conceição Montez, deixa escapar um carinhoso “avô Montez” quando se refere a ele, entre histórias que são tantas e tão épicas, que parece improvável caberem todas na biografia da mesma pessoa.
Nos anos 80, deu-se um aumento das instalações, e a ocupação do primeiro andar do mesmo edifício. Em 1991 inaugurou-se ali uma Boutique de Caça, e reuniu-se a colecção de armas do avô, a que ainda hoje lá repousa. São estimadas três centenas de armas, de fabrico e de épocas diferentes. Para além das armas, esta colecção inclui objectos relacionados com a actividade, e muitos documentos.
MORADA:
Praça D. João da Câmara 3
1200-147 Lisboa
(perto da Estação Ferroviária do Rossio)
HORÁRIOS:
TODOS OS DIAS 09:00 – 13:00 / 15:00 – 19:00
Fonte: Lojas Com História; Blog Restos de Colecção;
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