Este percurso conta-nos histórias acerca das convulsões do planeta Terra nos últimos 300 milhões de anos.
Saindo de manhã cedo, é provável encontrar muitas aves como o pombo-bravo, o falcão-peregrino, a gralha-de-bico-vermelho, o rabirruivo e as gralhas-de-nuca-cinzenta. Nos caminhos notam-se dejetos, pegadas e tocas de coelho, raposa, saca-rabos e lontra. Os habitats sobre as falésias são essenciais para a conservação de plantas que, na verdade, são muito raras a nível global, como é o caso de Armeria beirana, Teucrium vicentinum, Cistus palhinhae ou Thymus camphoratus e, nas encostas dos vales fundos, as linhas de água são dominadas pela tamargueira. Os matagais enchem-se de flores e aromas na Primavera, com arruda, diferentes espécies de urzes, murta, espargo-bravo, cardo-do-algarve, trovisco, aroeira, carrasco, rosmaninho, zimbro e joina-das-areias.
Na praia da Murração encontram-se os melhores afloramentos rochosos do período Carbónico marinho em Portugal, com mais de 300 milhões de anos. Nas dobras e falhas das rochas das falésias, os geólogos estudam a formação de uma cadeia montanhosa antiga, hoje completamente arrasada, mas que, aquando da formação do supercontinente Pangeia, se elevou mais do que qualquer outra montanha portuguesa actual. Nessas rochas, as dobras maiores estão já muito arrasadas pela erosão, mas adivinham-se pelas camadas rochosas inclinadas, por vezes quase verticais, contendo pequenos fósseis de organismos marinhos, muito importantes para a reconstituição da evolução da vida nessa era longínqua. As rochas antigas e deformadas são atravessadas por filões de outras rochas, resultantes de magma que consolidou antes de conseguir chegar à superfície, durante a abertura do oceano Atlântico, na era dos dinossauros. Mais recentes, com cerca de 200 milhões de anos, são os coloridos arenitos vermelhos e amarelos, que começam a observar-se logo na praia do Amado, resultantes de depósitos continentais. A Praia da Murração está classificada como local de enorme interesse geológico (geossítio) pois, entre outros aspetos, apresenta a secção mais contínua e melhor datada da Formação de Bordalete (unidade muito importante do Carbónico marinho português), expõe o carreamento da Carrapateira (um dos acidentes tectónicos mais conhecidos da Zona Sul Portuguesa) e mostra os filões doleríticos e básicos alcalinos (excelente testemunho dos fenómenos que conduziram à abertura do Oceano Atlântico).
Junto à praia da Murração, há uma estação arqueológica com vestígios de fogueiras e dos alimentos nelas cozinhados pelos povos pré-históricos. Este tipo de estação é comum na costa sudoeste de Portugal e denomina-se “concheiro” uma vez que nele predominam as conchas de moluscos marinhos.