Foi ainda no tempo do Estado Novo que foram construídas as barragens no Alentejo. Esta caminhada permite conhecer tanto a agricultura de regadio como de sequeiro, com belos montados que originam grande riqueza florística e faunística. A Primavera é especialmente generosa neste percurso, tingindo os campos de todas as cores, num festim para o olhar, enquanto as aves produzem a banda sonora perfeita.
Ao percorrer este percurso atravessam-se searas, prados, montados, eucaliptais, florestas de sobreiro e de pinheiro-manso, sobre relevos suavemente ondulados. Alguns sobreiros, muito antigos, apresentam-se majestosos, abrindo os seus ramos aos ninhos dos tentilhões, chapins, poupas, corujas e águias.
As plataformas montadas nestas árvores para as esperas aos javalis fazem prever a abundância deste animal por aqui. Mas também se encontram vestígios de lontra, texugo e raposa. Pelo caminho são comuns os encontros com as perdizes, trigueirões e cartaxos. Desde o início da época das chuvas até ao final da Primavera, os charcos temporários estão na sua fase aquática, secando completamente no Verão. Observe a abundância e diversidade de girinos. Estes charcos são essenciais para a reprodução de sapos, rãs, salamandras e tritões (anfíbios). De facto, como são temporários, estes habitats não têm peixes nem lagostins, predadores habituais dos ovos e das larvas dos anfíbios.
Um inseto muito comum nestes caminhos, na Primavera e início do Verão, é o arrebenta-bois, Berberomeloe majalis. É grande (mede, em média, 5 cm), tem cor preta e pode ter riscas vermelhas no abdómen. A fêmea deposita ovos num pequeno buraco no chão. As larvas sobem pelas ervas até às flores e esperam a chegada de uma abelha ou outro inseto dessa ordem.
Agarram-se às suas patas, conseguindo assim uma boleia para o ninho da vítima, onde começam a parasitar, comendo ovos, larvas e o alimento que era destinado às larvas das abelhas. Após várias metamorfoses, o adulto emerge para o exterior, tornando-se herbívoro. Quando se sente ameaçado, o arrebenta-bois expele um líquido avermelhado com uma substância tóxica – a cantaridina – que pode causar irritações na pele e é venenosa se ingerida.
As linhas de água, com as suas fantásticas galerias de freixos e salgueiros, funcionam como corredores ecológicos para a dispersão de plantas e animais. O seu efeito é aumentado com as trepadeiras (hera, madressilva e salsaparrilha-bastarda) e os arbustos ribeirinhos, que acabam por fechar a galeria, proporcionando excelente local para alimentação, refúgio e reprodução de muitos animais. Nas orlas do eucaliptal é fácil observar duas espécies endémicas, ou seja, exclusivas deste cantinho da Península Ibérica: Cynara algarbiensis e Centaurea vicentina. Na Primavera, as bermas dos caminhos estão cheias de ervilheiras-bravas, perpétua-das-areias, linho-bravo, tremoceiro-azul, espadanas-dos-montes e orquídeas selvagens do género Serapias (erva-língua). No Outono, junto ao canal e às linhas de água, o pilriteiro enche-se de vibrantes frutos vermelhos, comestíveis. Nos matagais predominam a carqueja, o tojo-gatum, as estevinhas, a esteva, o trovisco e a erva-das-sete-sangrias.