Esta é a etapa mais montanhosa da Rota Vicentina, um percurso exigente em termos físicos, com subidas longas em terrenos duros e irregulares, mas em que terá a oportunidade de apreciar vistas deslumbrantes sobre a planície e o Atlântico, bem do topo da serra.
Este percurso combina a verde placidez das pequenas quintas, as suas hortas e pomares, com um sentimento de progressivo abandono, à medida que vamos entrando na serra. O fecho das minas de ferro e manganês do Cercal, depois de mais de 40 anos de laboração, deixou despojos que se cobrem de silvas e matos. As galerias das minas são agora refúgio de importantes colónias de morcegos, que trabalham para nós incansavelmente, toda a noite, em tarefas como o controlo de pragas de insetos e a dispersão de sementes. Cada morcego come o equivalente a 50% do seu peso em insetos numa única noite.
A serra proporciona momentos de puro deleite, pelas paisagens inesperadas, como a Rocha de Água d’Alte, pelas panorâmicas deslumbrantes sobre o litoral, pela flora única e rica, pela água subterrânea que aflora em variadas fontes, que alimentam pequenos regatos. Os matos são dominados pela esteva, belíssima e perfumada. Mas há um certa desolação quando a serra aparece rasgada pelos socalcos dos eucaliptais, sob os quais um solo nu se expõe perigosamente às intempéries. Interessante é verificar como a flora nativa explode sempre que no eucaliptal uma aberta deixa espaço e luz disponíveis. Depois do Penedo, nem é preciso sair do caminho para contemplar algumas espécies muito raras, pois elas crescem no solo duro e seco que pisamos.