Este é um dia de caminhada memorável, em que irá percorrer trilhos inóspitos, cobertos de vegetação autóctone e bem preservada, descer a vales fundos e subir de novo às alturas da serra, apreciando a vista sobre o casario de Odeceixe e o mar. No final terá o Algarve à vista e ligação com o Trilho dos Pescadores.
Vale a pena fazer este troço na Primavera, quando a violência das cheias já acalmou e a vida explode com todo o fulgor. Tanto junto às ribeiras como nos matos, a biodiversidade é absolutamente espantosa. Carqueja, orégão, estevinha, roselha, folhado, murta, urze, tojo, pilriteiro, aroeira ou trovisco são apenas alguns dos arbustos que abundam pelo percurso. As aves respondem a esta diversidade enchendo o espaço com o seu canto e voos hábeis. As hortas e campos de cultivo ocupam as várzeas, terrenos planos, frescos e férteis, tão raros nesta paisagem de solos pobres e delgados.
As galerias ripícolas são fantásticas, com freixo, amieiro, carvalho-cerquinho, salgueiro e tamargueira. As folhas destas árvores são caducas, deixando a luz entrar na ribeira no Inverno e protegendo o habitat no Verão, com a sua sombra. Quando atravessar as ribeiras, repare nos orifícios escavados nas barreiras junto ao leito: são do rato-de-água, um simpático roedor que faz lembrar um pequeno castor, não só na forma do corpo como na agilidade em meio aquático. No Outono vale a pena pedir aos habitantes das casas rurais para provar a fruta dos pomares. O sabor é único… Existem muitas variedades locais de frutos e legumes que estão agora a tentar salvar-se da extinção, por associações e autarquias.