O percurso desenvolve-se sobre o planalto litoral, zona aplanada sobre rochas com mais de 300 milhões de anos, desenhada pela erosão marinha, quando o nível do mar era muito mais elevado e as rochas estavam muito abaixo dos níveis atuais, tendo sido levantadas por movimentos tectónicos.
Apesar de se tratar de um planalto, este trilho está longe de ser plano, sendo rasgado por declives abruptos pela erosão das linhas de água. Abundam os arbustos adaptados ao vento – zimbro, sargaça, camarinheira, aroeira, lentisco, trovisco e tojos. Alguns deles apenas existem no sudoeste de Portugal, como é o caso da esteva-do-sudoeste (Cistus palhinhae), o tomilho-canforado (Thymus camphoratus) ou o tojo-de-Sagres (Ulex erinaceus). A diversidade de plantas é enorme e revela-se plenamente na Primavera, mas esta área é também um importante corredor para aves migradoras e, entre final de Setembro e início de Outubro, concentram-se aqui milhares de aves na rota outonal de África. Algumas espécies migram durante a noite, descansando e alimentando-se durante o dia. Outras migram durante o dia, como é o caso das águias, das cegonhas, dos flamingos, das alvéolas ou dos abelharucos. Algumas nem precisam de parar para descansar e alimentar-se, porque o fazem em voo, como é o caso das andorinhas e dos andorinhões! A migração envolve muitos riscos e dezenas de milhões de aves morrem anualmente durante os seus percursos.
O litoral para sul da Carrapateira é o reino do percebe, um crustáceo marinho que faz parte do grupo dos caranguejos e camarões. O seu aspecto é muito original, pois tem apenas um pé, que adere fortemente à rocha, e uma unha, onde se aloja a maioria dos órgãos vitais. O percebe é simultaneamente macho e fêmea, reproduzindo-se da Primavera ao Outono, incubando os ovos no seu interior até à eclosão das larvas. Ser apanhador de percebe (o percebeiro) é uma profissão de grande risco, uma vez que os locais de apanha são rochas de difícil acesso, sujeitas a forte ondulação marinha. Outrora muito abundante, este crustáceo é atualmente cada vez mais escasso.