Este percurso é o mais interior da Rota Vicentina e onde se situa o seu ponto mais alto, no sítio do Moinho da Serra. Caminhará em redor da pitoresca aldeia de S. Martinho das Amoreiras, sobre vales onde copiosas nascentes despejam água o ano todo, campos suavemente ondulados onde o gado pasta com vagar e serras cobertas de floresta, cujos cumes oferecem paisagens de cortar a respiração.
S. Martinho das Amoreiras tem atualmente pouco mais de 1000 habitantes que se dedicam principalmente à floresta, agricultura e pecuária, mas outros produtos de enorme qualidade são produzidos nesta freguesia: mel, medronho e azeite. E há quem assegure que o pão tradicional de São Martinho é o melhor do Alentejo.
Na transição da aldeia para o campo, pequenas hortas e pomares são ladeados por antigos muros de pedra e regatos disciplinados por valas antigas em pedra. Nos remansos reproduzem-se as salamandras e tritões. Aves como os gaios, as pegas-azuis, as gralhas-pretas, os cucos, os pica-paus, as toutinegras, os cartaxos, os abelharucos, as perdizes e os tentilhões abundam nas sebes de loureiro, marmeleiro, salgueiro e figueira, e também em árvores ancestrais como pinheiros, sobreiros, cedros e eucaliptos, que constituem o local perfeito para o ninho de uma ave de rapina muito especial: a águia-de-bonelli. Com sorte, é possível que ela surja no percurso, provavelmente junto ao moinho. Os vestígios de javali também são omnipresentes ao longo do trilho. Especialmente abundante neste trilho é o rosmaninho-verde (Lavandula viridis), mais raro que o rosmaninho de flores púrpura (Lavandula stoechas).
A Primavera faz despontar a erva-azeitoneira, a esteva e a erva-caril, assim como plantas medicinais, como a carqueja, a erva-das-sete-sangrias, a dedaleira e a erva-prata. Outras plantas que vêm dar grande colorido aos campos são o tojo-molar, o cardo-do-sul (Cynara algarviensis, endémico do sudoeste da Península ibérica), os amores-perfeitos, a estevinha, a marioila, a erva-bicha, a cebola-albarrã, o jacinto, a maceróvia e os lírios pequenos.
Este território foi habitado desde a Pré-História, como se observa na estação arqueológica Necrópole do Pardieiro, 7km a sudoeste de S. Martinho, que desvendou algumas características da comunidade que ali habitou há 2500 anos (I Idade do Ferro). Junto dos onze túmulos da necrópole encontraram-se estelas epigrafadas, ou seja, lajes de pedra com inscrições na escrita do sudoeste, a primeira forma de escrita alfabética na Península Ibérica. Três núcleos populacionais, Amoreiras, S. Martinho e Conqueiros, disputaram durante séculos a sede da freguesia mas S. Martinho ganhou a disputa, já que aí foi instalada no séc. XVIII a Igreja Matriz, de inspiração barroca, rococó e neoclássica, construída sob os auspícios da Ordem de Santiago de Espada.