“TODAS AS NOITES” de Rui Serra, artista natural de Elvas, é inaugurada este sábado, 29 de abril, pelas 16 horas, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE), tendo curadoria de Ana Cristina Cachola.
Este projeto vai estar patente ao público até 25 de junho e assinala o primeiro momento das comemorações dos 10 Anos MACE, instituição museológica que acolhe desde a sua fundação, a 8 de julho de 2007, a Coleção António Cachola.
Nesta exposição individual, Rui Serra reúne um conjunto alargado de obras pertencentes à Coleção António Cachola, datadas de momentos distintos, que ocuparão o MACE em toda a sua extensão, sendo que após a inauguração da exposição, pelas 17.30 há um diálogo entre Paulo Pires do Vale e Tomás Maia sobre “A Noite”, de participação livre e terá lugar na sala do Consistório do MACE. Em junho será ainda lançada uma publicação com textos inéditos do artista e da curadora.
TODAS AS NOITES, o título da exposição, insinua-se como referência ao processo criativo de Rui Serra, que ao longo de toda a sua obra tem vindo a questionar as relações entre as possibilidades da pintura, enquanto superfície de coincidência e dissidência do abstrato e do figurativo, e uma ontologia da vontade pictórica filiada no gesto mecânico.
“Todos os dias, sempre que pinto, uma noite cai sobre mim. Associo a noção de noite à metáfora do manto que cobre o dia, o véu que absorve e que retém todas as coisas. Essa noite considero-a uma metáfora do meu processo de trabalho, uma forma alternativa de ‘ver’ a realidade. […] Outra das características do meu processo de trabalho é a do fazer empírico, do trabalhar de modo físico e objectivo o que vivo no plano da imaginação. No meu caso, a execução manual do todo e das partes, o sentir literalmente a totalidade da pintura, torna-se uma tarefa quase mecânica. Tento no processo eliminar a marca da mão, como sinal de uma expressividade que considero ‘implosiva’, hiper-controlada, e simulacro de uma acção maquinal. Este rigor gestual considero-o a demonstração de um virtuosismo que recusa racionalmente o gesto explícito, tornando o fazer pictórico num acto ritualístico, de constante repetição, tendo em vista o saber-fazer sem falhas próprio de um mecanismo automático“, refere o pintor.
Este processo, de que a noite é metáfora, ancora-se num sistema de valores de obrigatoriedade criativa que mostra e produz formas alternativas de ver o real.
As diversas obras que formam a exposição apresentam-se em formatos distintos – pinturas, desenhos e maquetes, possuindo significação individual, mas concorrendo no seu conjunto para um entendimento ritualístico da pintura e da sua capacidade de produzir e criar realidade.
Para Ana Cristina Cachola, curadora,
“Nesta exposição, o dispositivo da noite, na sua polissemia ocidental, é tomado enquanto tropo do gesto criativo de Rui Serra. A noite insinua-se aqui enquanto espaço e tempo (des)figurados de produção do real que permitem uma existência ritualística e rigorosa da pintura. Em cada obra apresentada, Rui Serra desvela o processo subjectivo de descoberta de verdades universais. Estas verdades não são, contudo, dogmáticas na sua relação com o espectador, servindo, isso sim, enquanto matriz de verdade possível e dependência hermenêutica daquilo que cada um vê, quer ou consegue ver. Tudo o que é visto é verdade para aquele que vê.”
O programa 10 Anos MACE, promovido pela Câmara Municipal de Elvas e a Coleção António Cachola, conta também com o lançamento de publicações e projetos curatoriais a serem apresentados no museu, em mais 10 espaços da cidade de Elvas, em Badajoz, outros locais no Alentejo e Sul de Espanha, em Lisboa e no Porto, bem como com a apresentação de iniciativas temáticas, entre as quais se destaca a atribuição de 10 comissões a 10 jovens artistas portugueses para a criação de trabalhos inéditos.
Assim do programa destaca-se:
A 18 de maio, no âmbito da ARCO Lisboa – Feira Internacional de Arte Contemporânea realiza-se uma visita-guiada à exposição de José Pedro Croft, artista que este ano representa Portugal na Bienal de Veneza. Trata-se da última das oito exposições do Ciclo Coleção António Cachola/MACE no espaço Chiado 8 em Lisboa (2015/17), com curadoria de Delfim Sardo.
Prosseguindo a visão que destaca a Coleção António Cachola como uma das mais atualizadas e importantes coleções privadas do país, no âmbito da efeméride serão também apresentadas 10 comissões atribuídas a 10 jovens artistas portugueses, que ainda não estavam representados na coleção, para a criação de trabalhos inéditos.
A seleção dos artistas está a cargo de um comité formado por Filipa Oliveira, Curadora – Fórum Eugénio Almeida, João Laia, Escritor e curador independente, e Ana Cristina Cachola, Curadora e investigadora.
No dia 8 de junho, Ana Rito inaugura uma exposição individual com curadoria de Isabel Nogueira, tornando-se a primeira artista contemporânea portuguesa a expor no Forte de Nossa Senhora da Graça em Elvas, um dos monumentos ex libris da cidade Património Mundial da UNESCO.
A 8 de julho, dia em que se assinalam 10 anos da inauguração do MACE, inaugura UMA COLEÇÃO = UM MUSEU| 2007-2017, a exposição coletiva com curadoria de João Silvério a partir das obras da Coleção António Cachola, que tendo como ponto de partida o MACE alarga-se a mais nove espaços da cidade de Elvas, a outros locais do Alentejo e Sul de Espanha.
A 29 de novembro a Coleção António Cachola viaja até à Galeria Municipal do Porto, onde será a vez do curador João Laia trabalhar as obras da coleção, numa seleção que irá incluir alguns dos novos trabalhos resultantes das 10 comissões atribuídas a jovens artistas portugueses.